O cineasta McG começou a carreira nos videoclipes na década de 1990. Levou o estilo fragmentado e acelerado para o cinema quando assumiu a adaptação de As Panteras (2000). Embora tenha passado os últimos anos na cadeira de produtor, ocasionalmente ainda arrisca um trabalho ou outro como diretor. O último deles foi o despretensioso A Babá (2017), que chegou à Netflix em outubro.
O longa-metragem conta a história de Cole (Judah Lewis), que, apesar de estar entrando na adolescência, tem uma babá, Bee (Samara Weaving), poucos anos mais velha. O jovem encontra na garota uma saída para fugir dos ataques na escola da distante relação que mantém com os pais, que estão com o casamento em crise. Uma noite, quando estão sozinhos em casa, ele a vê participando de um ritual satânico de sacrifício humano.
McG amarra diferentes cenas sem se prender à verossimilhança ou ao bom gosto, privilegiando o recorte, a fragmentação e a disparidade.
Como em muitas de suas obras, [highlight color=”yellow”]McG monta uma colcha de referências no filme, costuradas com alguma batida musical pop[/highlight]. A narrativa dialoga com um diversificado repertório de produções, como O Portão (1987), Billy Jack (1971) e O Poderoso Chefão II (1974). As citações entram e saem de forma gratuita.
Em uma das cenas, por exemplo, Cole e Bee discutem sobre uma equipe de ataque formada por personagens fictícios do cinema de da televisão. Em alguns minutos, a jovem cria uma trama envolvendo Alien – O Oitavo Passageiro (1979), Star Trek e Independence Day (1996). Os nomes listados pela babá aparecem no canto da tela, como se isso bastasse para que o público os reconhecesse. McG usa o mesmo recurso para apresentar certos personagens, que têm os nomes destacados na primeira vez em que surgem na tela.
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O uso de tantas intertextualidades pelos protagonistas de A Babá não soa muito verossímil, visto que eles são bem novos. O diretor vai ainda mais longe na ânsia de romper com qualquer compromisso com o realismo nas cenas de ação/morte, que soam sempre exageradas e cartunescas. Em certo momento, o menino explode uma de suas algozes com um foguete de artifício, como se estivesse em um desenho animado.
Em um celebrado artigo para a Revista Contracampo, o crítico de cinema Ruy Gardnier chamou a frenética direção de As Panteras Detonando (2003) de [highlight color=”yellow”]esquizofrenia pop[/highlight]. No texto, ele discute como McG amarra diferentes cenas sem se prender à verossimilhança ou ao bom gosto, privilegiando o recorte, a fragmentação e a disparidade.
Embora seja bem mais contido que no exemplo analisado por Gardnier em A Babá, o cineasta também apresenta uma trama vertiginosa e cheia de retalhos. Se não vale pelo estilo videoclipes de referências, vale por divertir com uma história boba e repleta de cenas legais.