A Cura (2017), do diretor Gore Verbinski, foi tratado com uma injusta indiferença pelo público e pela crítica no início deste ano. O filme tem uma infinidade de referências à obra do psicanalista Sigmund Freud e articula interessantes reflexões sobre o mundo contemporâneo.
Verbinski parece ter lido O Mal Estar da Civilização, de Freud, para elaborar A Cura.
A trama acompanha um jovem executivo workaholic, vivido por Dane DeHaan, enviado a um isolado retiro nos Alpes Suíços a fim de encontrar o CEO da empresa em que trabalha. Chegando lá, descobre que o local tem fama de amaldiçoado, apesar de tratar os pacientes – idosos, em sua maioria – apenas com aquaterapia.
O mais estranho nesse primeiro momento do filme é a ausência de uma descrição do mal que aflige os internados. O roteiro parece não ter nenhuma vontade de esclarecer do que se trata. Os personagens apenas falam do problema, mas não a explicam. Para os médicos, o assunto é levado bem a sério.
Leva pouco tempo para que o próprio DeHaan passe a identificar o mal em si mesmo, diagnosticado pelo médico responsável pela clínica, interpretado por Jason Isaacs. No preenchimento dos espaços em branco da narrativa, podemos supor que a doença é a própria existência dos seres humanos no mundo contemporâneo. Presos em suas rotinas, eles sufocam seus impulsos e vontades e passam a viver em um universo de teatralidades.
O retiro é um espaço de libertação. É lá que o protagonista da história encontra um proibido interesse amoroso. Também é lá que velhos passam o dia apostando em jogos despretensiosos e vivendo com algum tipo de liberdade. No fim do filme, descobrimos que a clínica é um ambiente de desejos reprimidos, incestuosos e profanos.
Verbinski parece ter lido O Mal Estar da Civilização, de Freud, para elaborar A Cura. Além de discutir o contínuo incômodo e vazio que sentimos no nosso cotidiano, a narrativa também aborda temas como traumas infantis, suicídio e depressão. Isso tudo sem deixar de lado uma caracterização bem clássica do horror, com monstros deformados e cientistas malucos. O resultado é uma salada bem densa de temas e uma trama com 2h26 de duração que não pode ser vista como um título despretensioso do gênero.