No início dos anos sessenta, estava bastante claro para Tomoyuki Tanaka que monstros gigantes eram a coqueluche do momento. O sucesso de fitas como Rodan – O Monstro do Espaço (1956), Mothra, a Deusa Selvagem (1961) e, especialmente, King Kong vs. Godzilla (1962) confirmou a aposta do produtor da Toho.
O executivo japonês ficou determinado a explorar o gênero como podia. Além de preparar o terreno para transformar seu universo de criaturas abissais em uma rentável franquia, que perdura até hoje, Tanaka também passou a forçar seus realizadores a inserir kaijus em obras de ficção científica.
Quem mais sofreu com a diretriz foi o cineasta Ishirô Honda. Dois de seus filmes mais ambiciosos, Gorath (1962) e Atragon (1963), foram adaptados para inserir monstros gigantes no roteiro. Em ambos os casos, as ameaças são gratuitas e em nada contribuem para a trama.
Gorath é uma estrela que está em rota de colisão com a Terra. A narrativa acompanha diferentes personagens, como astronautas, cientistas e sobreviventes que precisam estudar o fenômeno e achar um jeito de evitar a extinção dos seres humanos.
Para isso, um grupo formado por representantes de diferentes países investe na construção de propulsores no Pólo Sul. Quando acionados, os foguetes levam o planeta para fora da órbita. Também despertam uma morsa gigante, chamada Maguma, que hibernava embaixo do gelo.
Embora tenha, décadas depois, afirmado que se orgulhava bastante de ambos os filmes, Honda também disse que preferiria realizá-los sem os kaijus.
A inventividade do roteiro, que se leva muito a sério, pode deixar os aficionados por lógica científica meio confusos. Porém, Honda e o roteirista Takeshi Kimura consultaram físicos e astrônomos para desenvolver as ideias propostas no filme. Justamente por isso, o monstro é um elemento bem estranho à gravidade da história.
Atragon, por sua vez, é o nome de um moderno submarino construído no fim da Segunda Guerra Mundial para ajudar a reerguer o Império japonês. O país, agora muito mais integrado às demais nações, só encontra utilidade para o veículo quando uma civilização que vive no fundo do mar decide invadir a superfície para dominar o mundo.
Assim como em Gorath, o longa-metragem de 1963, imagina o Japão como um país importante no cenário político-internacional. Trata-se de uma narrativa sobre cooperação entre governantes e a escolha pela paz – temas que se tornaram caros ao cinema de Honda naquele período.
A pedido de Tanaka, o diretor enfiou um dragão, chamado Manda, como protetor do reino submarino em Atragon. o monstro ficaria bem mais famoso do que Maguma. Ganharia até uma ponta em O Despertar dos Monstros (1968), fita que reuniria diferentes monstros da Toho e se tornaria um dos maiores clássicos do cinema kaiju. Ali, no entanto, era só um contratempo na narrativa – sem qualquer peso dramático ou envolvimento com os dilemas do roteiro.
Embora tenha, décadas depois, afirmado que se orgulhava bastante de ambos os filmes, Honda também disse que preferiria realizá-los sem os kaijus. Seriam obras que se destacariam pela ousadia de lidar com temas de ficção científicas pesados e muito imaginativos.
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