Não é difícil notar como um filme sobre um trovador tenha a música como um elemento forte de sua composição. Mas o cinema simbolista do diretor soviético Sergei Parajanov – persona non grata em meio à cultura realista do comunismo russo – faz o milagre de encher A Cor da Romã, uma das mais instigantes obras da mostra Olhares Clássicos de som e fúria sem, contudo, transformá-lo em um musical.
O cineasta decidiu retratar a vida do artista armênio Sayat-Nova sob o signo de imagens que tanto chocam quanto encantam. O objetivo, segundo a apresentação da própria película, de 1968, era justamente abordar o lirismo de sua vida por meio de alegorias poéticas. Da infância do artista, passando por sua vida adulta até sua morte em um mosteiro, tudo o que é mostrado ao espectador está carregado de significado e de força estética.
O cineasta decidiu retratar a vida do artista armênio Sayat-Nova sob o signo de imagens que tanto chocam quanto encantam.
Sayat, cujo verdadeiro nome era Harutyun Sayatyan, é considerado uma das grandes personalidades armênias de todos os tempos, razão pela qual A Cor da Romã trata sua vida interior com a mais delicada das reverências.
Mesclando elementos como terra e fogo ao sagrado de sua rotina monástica, o filme é uma viagem por referências cristãs na cultura do Cáucaso, subjetivo ao extremo e hermético até certo ponto.
O resultado para o espectador, na versão restaurada do filme em 4K, é a de presenciar uma verdadeira obra de arte. Linearidade e sentido são elementos dispensáveis na obra de Parajanov, mas a beleza da fotografia é a sua grande marca registrada.
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