A 11ª edição do festival Olhar de Cinema foi aberta, na noite da última quarta-feira (1º), no Cine Passeio, em Curitiba, com o potente documentário Vai e Vem, dirigido por duas amigas cineastas: Fernanda Pessoa, que vive em São Paulo, e a mexicana brasileira Chica Barbosa, residente em Los Angeles.
Ao longo de 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, as diretoras, ambas em países sob governos de contornos neofascistas, de extrema direita, fizeram um pacto – comunicarem-se apenas por cartas em formato de vídeos, inspirados pelas obras de cineastas mulheres que ambas admiram.
A proposta era a de que cada uma das realizadoras pudesse sentir o que a outra estava vivenciando.
A proposta era a de que cada uma das realizadoras pudesse sentir o que a outra estava vivenciando. Fernanda enviou a amiga imagens dos panelaços diários na capital paulista; o impactante depoimento de sua sogra – uma mulher progressista tendo de lidar com uma nova vida num reduto bolsonarista em Maringá, norte do Paraná –; e as dificuldades que muitos trabalhadores brasileiros tiveram de enfrentar, impossibilitados de permanecer em casa e se protegerem contra a doença, que avançava a passos largos.
Da Califórnia, Chica enviou imagens dos protestos do movimento Black Lives Matter e da campanha presidencial do candidato democrata Joe Biden; o emocionante testemunho de uma chicana (descendente mestiça de mexicanos) sobre não se sentir pertencente a cultura alguma nos Estados Unidos; e a respeito da experiência de adaptação da cineasta, recém-chegada em pleno governo Trump, sempre sob a sombra ameaçadora da pandemia.

Para estabelecer esse diálogo imagético, as duas cineastas partiram de uma espécie de jogo, que toma como base um livro da professora norte-americana R. Blaetz sobre o cinema experimental dirigido por mulheres. A publicação é composta de 16 artigos sobre diversas diretoras de cinema de invenção.
Além dessa lista de Blaetz, a dupla também buscou nomes de outras realizadoras para enriquecer o processo, o tornando ainda mais pessoal. O vai e vem das correspondências digitais, estendido por meses, atravessa momentos políticos, como os processos eleitorais nos dois países. No Brasil, a eleição municipal de 2020, e nos Estados Unidos, a presidencial, que tirou Trump do poder.
O resultado é um mergulho ao mesmo tempo introspectivo, porque parte de percepções assumidamente íntimas e pessoais que ambas tiveram de seus cotidianos, e valioso do ponto de vista histórico, porque registra, em primeira pessoa, o que elas testemunharam, viveram e sentiram durante esse período tão delicado. Vai e Vem será lançado nos cinemas em 2023 e merece muito ser visto.
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