Entre os conhecidos meus que sei que leem minhas críticas, posso garantir que pelo menos metade já me ouviu falando a respeito de Avatar: A Lenda de Aang. Não é à toa, adoro esta série. Não é a primeira vez que escrevo sobre ela desde que a assisti pela primeira vez, mas acho que é a primeira vez que faço de fato uma resenha crítica dela. Isso vai ser interessante. Mas vou me esforçar pra ser curto. Nem vou me dar tanto o trabalho de resumir a história, tudo que você precisa saber é dito logo na abertura.
Embora tenha sido lançada originalmente em 2005, demorei anos para de fato assisti-la. Não sei o porquê, talvez as prévias que foram lançadas na época tenham me deixado um pouco cético, pois ainda não era fã de animes serializados (e também não entendia que Avatar não é de fato um anime). Sem falar que era um programa da Nickelodeon, a que eu quase não assistia – assistia mais ao Cartoon Network.
De qualquer forma, só fui assistir ao programa pela primeira vez em 2011, três anos depois deste já ter terminado. No meu computador. E logo nos primeiros dez minutos percebi que o que quer que eu estivesse assistindo, era único. E viciante. Após assistir ao primeiro episódio, pude apenas dizer “uau” antes de assistir ao próximo. A cada episódio que terminava, eu precisava assistir ao seguinte. E quando terminei a série, mais uma vez pude apenas dizer: “Uau”.
Essa é uma franquia que parece nunca atingir a fadiga ou ter qualquer ponto baixo.
Sim, entre as animações que assisti, esta é a mais próxima que consigo imaginar da perfeição. A série é americana, mas a influência japonesa é evidente. Porém, embora animações americanas já tivessem antes tentado imitar o estilo anime – a exemplo de Samurai Jack e Os Jovens Titãs -, Avatar é a que melhor fez isso, pegando o visual das animações japonesas, mas ao mesmo tempo mantendo a ludicidade e caracterização tipicamente americanas, resultando em um maravilhoso sopro de ar fresco na história da animação (se você já assistiu a série, sim, o trocadilho foi intencional). O que me deixa perplexo, considerando que esta série veio da Nickelodeon.
Entendam-me, a Nickelodeon já produziu outras animações boas, como Bob Esponja e Invasor Zim… Mas também produziu séries como Fanboy & Chum Chum, Planeta Sheen e Breadwinners. Confesso, não sou um grande fã da programação deles. Mas esse não é o caso de Avatar. De alguma forma, em meio a isso tudo, o canal resolveu dar-se algum respeito e investir em uma série que poderia se tornar um clássico.
Mas não é apenas essa união de estilos que torna Avatar uma preciosidade. A animação é artística e de qualidade quase cinematográfica, principalmente nas sequências de ação. E a história é sem dúvida seu ponto forte, começando de forma simples, mas ficando melhor conforme progride, em um ritmo certeiro que se dá o devido tempo para construir de forma criativa um mundo em guerra entre quatro nações – cada uma representando um dos quatro elementos -, e também para desenvolver seus personagens, que seguem e ao mesmo tempo aprofundam arquétipos perfeitamente atemporais – principalmente o protagonista, um garoto de 12 anos que sabe que possui a responsabilidade de decidir o destino das nações, mas ao mesmo tempo quer apenas ser uma criança.
Algumas das tramas nas quais a narrativa se desenvolve podem ser um pouco previsíveis, e suas resoluções acabam se baseando em deus ex machina mais do que seria saudável, mas a série mesmo assim continua sendo envolvente, principalmente devido ao grande nível de pesquisa em artes marciais e espiritualidade oriental que fica evidente a cada episódio.
Isso, e seu humor leve e divertido, que se equilibra perfeitamente com momentos mais sérios e dramáticos, além de ensinamentos e questionamentos filosóficos que não seriam esperados de um programa supostamente infantil – tais como o equilíbrio entre tradições importantes e mudanças necessárias, o combate a certos preconceitos, a dificuldade em resolver conflitos sem usar a violência, e por aí vai. Basicamente, se você quer ensinar a alguém como se conta uma boa história, Avatar é um bom lugar pelo qual começar.
Cada vez que resolvo assistir novamente algum episódio, descubro algo novo. E mesmo com um spin-off (A Lenda de Korra) já concluído e uma infinidade de continuações na forma de histórias em quadrinhos, essa é uma franquia que parece nunca atingir a fadiga ou ter qualquer ponto baixo (o que chega a me deixar até meio confuso, considerando minha tendência natural em enjoar das coisas).
Isso é, nenhum ponto baixo exceto a adaptação live-action dirigida por M. Night Shyamalan, que vai contra todo o padrão de qualidade que a série conquistou, mas essa é uma outra história.