Nada parece ser mais complicado no humor do que tratar a terceira idade com leveza e respeito, fugindo a caricaturas e representações estereotipadas da velhice. Nem mesmo a deliciosa Grace and Frankie é consenso, mas certamente é o melhor exemplo recente de tratamento dado à velhice no humor contemporâneo, desta nova era televisiva.
Procurando aproveitar o embalo, a FOX lançou uma das séries mais grosseiras deste fall season: The Cool Kids. A série acompanha um grupo de idosos que residem em uma comunidade de aposentados, girando em torno de Sid (Leslie Jordan, de Will & Grace), Charlie (Martin Mull, de Two and a Half Men) e Hank (David Alan Grier, de Jumanji), que após a morte do quarto integrante, que deixou seu lugar à mesa vago, é completado por Margaret (Vicki Lawrence, de Great News).
The Cool Kids é mais um trabalho da FOX juntamente com o produtor executivo Charlie Day, responsável pelo sucesso It’s Always Sunny in Philadelphia. O problema aqui é que o seriado não consegue elaborar um tom de comédia interessante, e o problema não chega nem a ser uma questão do apelo ao “politicamente incorreto” (ainda que isso seja, sim, um pecado capital – no episódio piloto, por exemplo, há a menção de que apenas um gay tem liberdade para agredir uma mulher), é que as piadas são realmente pobres, recheadas de lugares comuns. Hank é piada por sua negritude, Sid por ser gay, Margaret por ser mulher… o padrão segue em cada personagem, cujas atuações também não ajudam em nada, ora histriônicos, ora sofrivelmente introvertidos, a ponto de esquecermos a existência deles.
O problema aqui é que o seriado não consegue elaborar um tom de comédia interessante, e o problema não chega nem a ser uma questão do apelo ao ‘politicamente incorreto’, é que as piadas são realmente pobres, recheadas de lugares comuns.
Mas como um produtor pode acertar tanto num show que perdura no ar há 13 anos e errar de diversas maneiras em apenas alguns episódios de uma temporada inicial? Uma boa resposta talvez seja que os roteiristas tentam tornar os quatro protagonistas de The Cool Kids em queridos do público, mas opta por fazer isso desenvolvendo eles muito pouco, enquanto destila uma sequência de piadas tão mal elaboradas que a única opção seria querer relevar essa cretinice superficial ignorando a atitude em virtude da idade avançada do personagem, algo nos moldes do “ah, eles são assim, são de outro tempo, outra época, precisamos relevar”. Mas o material é deveras fraco e nem mesmo esse texto brega e ultrapassado é suficiente para chocar mais o público.
Pouco depois de quatro episódios terem ido ao ar nos Estados Unidos, a emissora encomendou uma temporada completa com 22 episódios, refletindo que os números de audiência são razoáveis para uma série estreante. Contudo, os números vêm caindo a cada nova semana, o que pode tornar uma possível renovação para uma segunda temporada mais difícil. Tudo dependerá de quanto tempo mais Charlie Day será capaz de dar gás ao seu novo produto, ou se notará que é preciso rever certos conceitos. Resta saber se haverá paciência da FOX para qualquer uma das saídas.