Em maio de 2019, após oito temporadas, chegou ao fim Game of Thrones (GoT), série de maior êxito da última década. Mas o desfecho não foi com chave de ouro. Como George R. R. Martin, autor dos romances que deram origem ao programa, não havia escrito ainda o desenlace da saga, as duas últimas levas de episódios não ficaram à altura das anteriores e muitos se decepcionaram com o rumo dado aos personagens centrais e à própria trama.
Já se sabia naquele momento, contudo, que era uma questão de tempo e o fascinante universo criado por Martin seria revisitado, só não havia certeza de como e quando. No último dia 21 de agosto, terminou a espera, com a estreia, na HBO, de A Casa do Dragão, espécie de prequela de GoT.
A história se passa quase dois séculos antes dos acontecimentos retratados na série original e toma como base trechos do livro Fogo e Sangue, lançado pelo escritor norte-americano em 2018. A obra e a nova série têm como foco a dinastia Targaryen e seria assinada, na ficção, pelo “arquimeistre” Galdwyn, cerca de um século antes do nascimento de Daenerys, a rainha dos dragões vivida por Emilia Clarke em GoT.
‘A Casa do Dragão’: Feminismo
Os Targaryen, no romance, têm como origem a cidade Valíria, onde comandaram um grande império no continente de Essos. Valíria acabou dizimada por uma erupção vulcânica e o clã escapou para Westeros, continente vizinho. Com eles, levaram armas confeccionadas com o indestrutível aço valiriano e, é claro, seus famigerados dragões alados, símbolo da família.
Aegon I, rei dos Targaryen, conquistou os sete reinos de Westeros, os unificando, e escolhendo Porto Real como capital. Por três séculos, reinou a paz, porém uma crise sucessória dá fim a esse período pacífico. O rei Viserys (Paddy Considine, de Terra dos Sonhos), quinto da dinastia Targaryen, conclui que não terá filhos homens após a morte de sua esposa no parto. Este é o ponto de partida do enredo de A Casa do Dragão.
Tomando como base os quatro episódios exibidos até agora, a trama de A Casa do Dragão é bem menos intrincada (e povoada) do que a de GoT, na qual havia duas tramas que se entrelaçavam: uma mais realista, representada pela disputa do Trono de Ferro pelos líderes dos diversos reinos de Westeros; e outra, sobrenatural, com a terrível ameaça dos mortos-vivos, mantidos atrás da gigantesca muralha no norte do continente.
Nesta nova série, há muito menos personagens. A maioria pertence aos Targaryen ou gira em torno deles. Neste momento da história do clã, há bem mais dragões, sob controle da família e de seus agregados valirianos, os Velaryon.
Nesta nova série, há muito menos personagens. A maioria pertence aos Targaryen ou gira em torno dela.
Visaerys, no início da temporada, tem uma única filha, Rhaenyra, vivida na primeira fase pela revelação australiana Milly Alcock. Ainda uma adolescente, ela é voluntariosa, de temperamento forte e inteligente.
Apesar de saber comandar e montar dragões, e de ter espírito de liderança, por ser mulher e ainda muito jovem, ela é vista com desconfiança pelo conselho dos lordes, que não admite seu nome como possível herdeira do Trono de Ferro.
Como tem de escolher um sucessor, Visaerys acaba optando por seu irmão mais novo, o inescrupuloso Daemon, interpretado por Matt Smith, o príncipe Philip das duas primeiras temporadas de The Crown. Encrenqueiro e muito violento, Daemon decepciona muito o rei, que muda de ideia e escolhe Rhaenyra como sucessora do trono, o que contraria a tradição masculina do reino. Esta é, portanto, uma trama que discute questões feministas.
Visaerys vai se casar de novo com Alicent Hightower (Olivia Cooke), nobre adolescente e melhor amiga de Rhanenyra. Ela é também filha de seu “Mão”, nome dado a uma espécie de primeiro-ministro em Westeros, e um sujeito que gostaria de ver um descendente seu no trono. O casal logo tem um filho homem, Aegon, que de certa forma será uma ameaça à irmã mais velha.
Por sua vez, Rhaneyra (Emma Dárcy, na fase adulta), após um breve flerte incestuoso com o próprio tio, se casará o primo Laenor Velaryon (John MacMillan), e seu primogênito também será um menino.
Erotismo e violência
Com uma atmosfera semelhante a GoT no que diz respeito a intrigas palacianas, erotismo e violência, A Casa do Dragão, pelo menos até agora, tem funcionado bem, apesar de ser menos épico, ambicioso, e mais intimista.
Para não correr o risco de decepcionar os fãs, a HBO mexeu pouco no time criativo e escalou o diretor Miguel Sapochnik e o compositor Ramin Djawadi, ambos vencedores do Emmy por seus trabalhos em Game of Thrones.
Com um elenco eficiente, a serviço de personagens suficientemente carismáticos e sempre muito ambíguos, traço fundamental da franquia, A Casa do Dragão tem ótima produção e, se não chega a ser ainda tão empolgante quanto a série original, também não é uma decepção. A cada novo episódio, lançado todo domingo, a vontade é de saber o que virá pela frente. Isso é sempre um ótimo sinal!
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