Quanto tempo deve durar uma série? Temos casos de produções que começaram muito bem, perderam a qualidade e depois se recuperaram, mesmo com a debandada da audiência. Já outras perderam a qualidade depois de um tempo e nunca mais voltaram à velha forma, mesmo que o público continue fiel. Parece ser esse o caso de Orange Is the New Black. A série, que junto com House of Cards ajudou a Netflix a se firmar como a principal produtora de conteúdo original streaming, já há tempos derrapa em sua trajetória, num exercício cansativo de tentar se reinventar para continuar contando a mesma história.
Depois de um péssimo quinto ano maçante e interminável, em que a única novidade foi fazer a narrativa ser contada durante a rebelião de Litchfield, a sexta temporada traz as consequências desses atos. Com uma nova prisão, as personagens agora saem da segurança mínima para uma instituição mais severa. Sem saber direito o que está acontecendo, as mulheres são acusadas injustamente pela morte do carrasco Piscatella (Brad William Henke), assassinado sem querer por um policial no fim da temporada passada.
Orange Is the New Black virou uma série apática, ao menos para mim. E se analisarmos friamente, a produção anda em círculos desde seu segundo ano. Ok, temos agora uma prisão de segurança máxima e a sensação de que aquelas mulheres estavam numa colônia de férias vai embora, mas temos as mesmas problemáticas de sempre. Briga de gangue, um pouco de flashbacks, piadas por todos os lugares, abusos dos guardas, tráfico de drogas. Nada muda, mas parece que muda.
Orange Is the New Black virou uma série apática.
Dois acertos parecem saltar aos olhos no sexto ano. O primeiro é o desenvolvimento de Taystee (Danielle Brooks), que ganha uma história mais profunda e exige uma entrega da atriz bastante comovente. Ela é uma das poucas que segue um plot coerente durante toda a temporada, enquanto os outros personagens ganham pequenas histórias que parecem estar ali para logo serem esquecidas. O segundo é abordar o contexto atual dos EUA dentro da prisão, especialmente quando focam em personagens latinas. Com diálogos afiados, Orange Is the New Black consegue passar muito bem a discrepância social da administração de Trump e como a corda sempre arrebenta pelo lado mais fraco.
Por causa dos efeitos da rebelião, algumas poucas personagens das temporadas anteriores não aparecem ou ganham participações minúsculas. Porém, outras boas novas personagens entram, como Madison (Amanda Fuller), uma garota perigosa que detesta Piper (Taylor Schilling), além de Barb (Mackenzie Phillips) e Carol (Henry Russell), irmãs que se odeiam e acabam formando duas gangues rivais dentro da prisão. São histórias divertidinhas que matam o tempo nos 13 (treze!) episódios da sexta temporada, mas que acabam quase da mesma forma que todos os arcos que já vimos nos anos anteriores.
Jenji Kohan, criadora da série, de fato fica no limiar entre reiniciar a série todos os anos ou reformular para contar a mesma coisa, mudando algumas historinhas aqui e ali. Enquanto ainda é uma boa comédia com pequenos flashes de genialidade, o drama começa a cansar. Embora ainda tenha fãs cativos e fiéis, Orange Is the New Black dá a sensação que nós também estamos presos e perdendo excelentes horas da vida em uma história que já se esgotou há tempos.