Há muitos cinemas no mundo, bem mais do que os que cabem nos restritos circuitos exibidores aos quais o grande público brasileiro tem acesso. Diante dessa certeza, eventos como o Festival Internacional de Cinema da Bienal de Curitiba (FICBIC) se tornam fundamentais não apenas para ampliar o limitado acesso a produções de perfil mais autoral, mas também no processo de formação de plateias críticas, interessadas em ir além do que os multiplexes têm para lhes oferecer.
A programação do FICBIC 2015 (veja abaixo) tem como marca evidente a multiplicidade tanto estética quanto temática em filmes que vêm de todos os cantos do planeta, e que estarão em cartaz a partir de hoje, até dia 11 de novembro, no Espaço Itaú de Cinema (no Shopping Crystal), em duas salas. O longa-metragem de abertura, que será exibido simultaneamente em três telas do complexo, a partir das 20 horas, é O Clã, mais recente trabalho do argentino Pablo Trapero (leia matéria sobre o diretor), que com ele foi laureado com o Leão de Prata de melhor direção no Festival Internacional de Veneza neste ano.
O cineasta, um dos nomes mais importantes do chamado Nuevo Cine Argentino, também é o homenageado do FICBIC em 2015. Boa parte de sua potente filmografia será exibida em sessões diárias no Cine Guarani (no Espaço Cultural do Portão). Entre os títulos programados, estão o seu longa de estreia, Mundo Grua (1999), que revelou Trapero ao mundo e já lhe deu, de cara, prêmios no mesmo Festival de Veneza que, no ano passado, concedeu o Leão de Ouro de melhor filme ao sueco Um Pombo Pousou num Galho Refletindo sobre a Existência, de Roy Andersson, outro ponto alto do Panorama do Cinema Mundial do FICBIC 2015. O longa, que transita entre o realismo e a fantasia, é uma desafiante experiência cinematográfica dividida em episódios que colocam em xeque a condição humana.
Outro destaque do FICBIC é o drama Cinco Graças (Mustang), que apesar de ser falado em turco, é o representante da França na corrida por uma vaga entre os indicados ao Oscar de melhor filme estrangeiro. O longa discute com extrema delicadeza e sensibilidade a condição feminina no mundo islâmico, retratando as agruras vivenciadas por quatro adolescentes que esbarram nos valores impostos por sua cultura e religião.
Também com fortes chances de figurar entre os indicados ao Oscar, mas na categoria de melhor documentário, está Os Irmãos Lobo, vencedor do Grande Prêmio do Júri de melhor documentário norte-americano na última edição do Festival de Sundance, principal vitrine da produção independente nos Estados Unidos. O filme conta a história dos irmãos Angolo, que foram criados em um apartamento em Manhattan, em Nova York, longe do mundo real e da educação tradicional. Os pais preferiram usar o cinema como único instrumento pedagógico.
Também em Sundance 2015, mas na Mostra Mundial, recebeu o prêmio de melhor documentário o filme The Chinese Mayor, de Hao Zhou. A produção retrata o desafio enfrentado pelo prefeito de uma tradicional cidade no interior da China, considerada uma das localidades mais poluídas do mundo. Do também chinês Wong Kar-Wai, um dos maiores cineastas hoje em atividade, o FICBIC traz o épico de artes marciais O Grande Mestre, que em 2013 concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e fotografia.
Brasileiros
Pela primeira vez, o FICBIC terá toda uma seleção de longas-metragens nacionais, o Panorama do Cinema Brasileiro, em exibição ao mesmo tempo, e no mesmo espaço de exibição, que a mostra internacional, demonstrando igual tratamento aos filmes. Um dos títulos mais aguardados é Olmo e a Gaivota, codirigido por Petra Costa (de Elena) e a dinamarquesa Lea Glob. Premiado como melhor documentário no Festival do Rio 2015, o filme mergulha na subjetividade de uma atriz que está grávida, enquanto ela participa de uma outra gestação, a de uma montagem de A Gaivota, clássico de Tchekhov.
Outro ponto alto da seleção brasileira é o longa Brasil S/A, filme urgente, contemporâneo, de Marcelo Pedroso, que venceu diversos prêmios no Festival de Brasília de Cinema Brasileiro no ano passado, entre eles os de melhor direção e roteiro, que conta a inusitada saga de um canavieiro que se torna astronauta, em uma obra alegórica sobre o país onde vivemos.
Filmes do Panorama Cinema Mundial
Filmes do Panorama Cinema Brasileiro
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