
Fato e ficção se embaralham no intrigante Angels of Revolution, que estreia nesta quinta-feira (11) na mostra competitiva do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba. Embora seja baseado em fatos reais, o filme de Aleksey Fedorchenko (de Almas Silenciosas), um dos cineastas mais inventivos da Rússia hoje, não é um drama histórico convencional.
O diretor se apropria de um fato histórico pouco conhecido fora dos limites de seu país: a Rebelião Kazym, que nos anos 30, pouco mais de uma década após a Revolução Bolchevique (1917), colocou em confronto a população nativa da Sibéria, ainda em estado tribal, e o governo da jovem União Soviética, que investia fortemente no projeto de coletivização cultural, que visava a anular as diferenças culturais no país. Tudo em nome de um projeto nacional.
Angels of Revolution se apropria dos clichês da retórica política, os transformando em potentes elementos dramáticos.
O conflito, que expõe o autoritarismo cruel de Moscou, é matéria-prima para uma instigante, ainda que formalmente radical, meditação sobre os gritantes abusos de poder cometidos em nome de um regime supostamente popular. Fedorchenko, logo nas primeiras sequências, deixa muito claro que seu cinema não tem qualquer compromisso com o realismo, embora tome como base acontecimento verídicos.
Angels of Revolution revela-se uma interessante alegoria, que recorre a clichês da retórica política, os transformando em potentes elementos dramáticos, e os costura a referências ao teatro popular siberiano, de raízes folclóricas. Parece querer confrontar, de forma satírica, a artificialidade da ideologia revolucionária, intrusiva e violenta, e a força da cultura original da região.
O resultado pode não ser lá muito palatável para quem busca linearidade e realismo, mas quem tiver a coragem de enfrentá-lo terá a oportunidade de assistir a um espetáculo de hipnótica beleza visual, denso e ousado.
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