Em um futuro em que os olhos dos próprios cidadãos se tornam câmeras, a privacidade é um luxo impossível e ilegal. Essa é uma das premissas de Anon, filme de ação futurista protagonizado por Clive Owen e Amanda Seyfried.
A ficção científica é um tema recorrente na filmografia do diretor e roteirista do longa, Andrew Niccol, responsável por O Preço do Amanhã (2011) e Gattaca, uma Experiência Genética (1997), conhecido por boas ideias e execuções genéricas. Spoiler: a história se repete aqui.
Owen é um detetive de polícia com um trabalho não muito desafiador, já que um sistema neural permite que a polícia tenha acesso a tudo que a população enxerga. Vítimas podem ser testemunhas de seus próprios assassinatos com as gravações de seus últimos momentos e as pessoas conseguem “rebobinar” e assistir suas memórias ou acontecimentos diários.
No entanto, quando um assassino em série consegue burlar o sistema hackeando a visão de suas vítimas, o policial precisa encontrar uma criminosa especialista em apagar identidades – e praticamente irrastreável – que parece ser a chave para o mistério.
Infelizmente, Anon é lento demais para ser considerado um thriller de ação, mas não inteligente o suficiente para se tornar um estudo sobre a troca feita ao se abrir mão de sua privacidade pela segurança do monitoramento constante. Ou mesmo como a tecnologia de redes é, ao mesmo tempo, um plano quase infalível e completamente vulnerável aos especialistas civis (no geral, hackers).
Infelizmente, Anon é lento demais para ser considerado um thriller de ação, mas não inteligente o suficiente para se tornar um estudo sobre a troca feita ao se abrir mão de sua privacidade pela segurança do monitoramento constante.
Seyfried nunca foi mais do que uma atriz competente, mas Owen, que já brilhou em obras como Filhos da Esperança (2006) e mesmo na série The Knick (2014-2015), parece estar se tornando o tipo ator que faz apenas versão de um mesmo alter ego em todos os filmes que protagoniza.
Ele é o tipo meio inexpressivo, sarcástico, sofrido, “você não pode me assustar após tudo que eu já vi na vida”. É o Larry, personagem dele em Closer – Perto Demais, levemente menos babaca. Resumindo: um protagonista que não conecta com o espectador.
Apesar da premissa original e que se mantém intrigante até uns bons três quartos do longa, a resolução é corrida, previsível e fria. Pode até inspirar umas questões curiosas, boas para conversas de bar aos mais reflexivos, mas o mérito será todo seu, pois o filme só toca superficialmente e abandona seus pontos com mais potencial.
A Netflix parece estar caindo no erro que os filmes para TV da HBO incorrem há tempos: uma produção visualmente impressionante, uma ideia original e um elenco conhecido do público, mas uma execução mediana para baixo.
Aliás, o episódio “The Entire History of You”, o terceiro da primeira temporada de Black Mirror, apresenta uma tecnologia semelhante com uma abordagem completamente diferente, mas muito mais eficiente. E você economiza quase 50 minutos. Fica a dica.
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