O longa-metragem A Batalha de Shangri-lá, estreia desta semana nos cinemas brasileiros, é um filme que dói. Mais do que isso: é a dor, física e emocional, que move seu protagonista, João, vivido por Gustavo Machado (de Eu Ouviria as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios), em grande atuação.
Na trama, o personagem perde seu pai adotivo e, de posse dos documentos de sua adoção, inicia uma jornada pessoal em busca da mãe biológica, que o abandonou há quase 40 anos, no interior do Mato Grosso. Mais do que ir em busca de um vínculo afetivo, João busca respostas existenciais.
É interessante como os cineastas mato-grossenses Severino Neto e Rafael de Carvalho estabelecem um paralelo entre o sofrimento emocional do personagem e um mal físico que o acompanha durante boa parte da narrativa sem que essa doença seja diagnosticada com precisão. À medida em que ele chega mais perto da verdade, essa manifestação se intensifica, como se fosse a metáfora de algo terrível – e é.
É interessante como os cineastas mato-grossenses Severino Neto e Rafael de Carvalho estabelecem um paralelo entre o sofrimento emocional do personagem e um mal físico que o acompanha durante boa parte da narrativa sem que essa doença seja diagnosticada com precisão.
Em uma viagem a um Brasil profundo, do Centro-Oeste, pouco retratado pelo cinema nacional, João conhece sua cidade natal e pessoas que fizeram parte do passado de uma mulher chamada Madalena, nome que consta de seus documentos originais como mãe biológica.
Essa jornada, tratada pelo roteiro como uma investigação detetivesca, aos poucos se transforma em um mergulho sofrido, abordado com contenção e vigor pelos diretores.
O encontro com essa “mãe que não foi”, vivida por uma ótima Ingra Lyberato (de Dois Córregos), e o passado dessa mulher, é devastador, mas também surpreendente, porque lida com questões relacionadas à homofobia, à violência e ao abandono – Madá é casada com a florista Júlia (Maria Ceiça) há décadas. As revelações vão sendo feitas aos poucos e nada se resolve de forma apressada. A narrativa é, portanto, tensa, envolvente.
O roteiro de A Batalha de Shangri-lá, assinado por Severino Neto, foi selecionado na 13ª edição do festival Ibermedia, em Madri (Espanha), onde passou por um laboratório de desenvolvimento que teve como consultores os cineastas Karim Aïnouz e Tomas Aragay. O impacto dessa consultoria é visível.
Produzido e filmado em Cuiabá, no Mato Grosso, com cerca de 80% da equipe vinda da cidade. A Batalha de Shangri-lá tem produção da Molera Filmes e da curitibana Moro Filmes (que também é distribuidora). Sua realização contou com recursos do estado do Mato Grosso por meio da linha de coinvestimento do Fundo Setorial do Audiovisual/BRDE/Ancine.
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