É muito provável que Boa Sorte, Leo Grande, em cartaz nos cinemas, seja lembrado, daqui a alguns anos, como “aquele filme em que Emma Thompson aparece nua”.
Aos 63 anos, vencedora dos Oscar de melhor atriz, pelo seu desempenho em O Retorno de Howard’s End (1992), e roteiro adaptado, por Razão e Sensibilidade (1995), Emma é um dos grandes nomes do teatro e das telas no Reino Unido. Mas (quase) nunca teve sua imagem associada a personagens com apelo erótico. E, em Boa Sorte, Leo Grande, ela se desnuda de várias formas.
Talvez por isso que o filme tenha sido uma sensação quando foi exibido no último Festival de Sundance, nos EUA, onde foi comercializado por US$ 7,5 milhões.
É importante dizer aqui, no entanto, que Boa Sorte, Leo Grande, embora fale abertamente sobre sexo e seja, sim, bastante sensual em alguns momentos, não é, de forma alguma, um filme no qual o erotismo seja tema central. Fala, principalmente, sobre intimidade, ou a falta de.
A protagonista, vivida por Thompson, é uma viúva de 55 anos. professora de Educação Religiosa no ensino médio, e mãe de dois filhos adultos. Sem nunca ter tido um orgasmo na vida, por conta de uma vida sexual burocrática e sem graça com o marido, ela, a despeito de seus medos, toma um decisão ousada: contratar os serviços de um jovem garoto de programa irlandês, o tal Leo Grande que dá título ao filme, interpretado Daryl McCormack.
A protagonista, vivida por Thompson, é uma viúva de 55 anos. professora de Educação Religiosa no ensino médio, e mãe de dois filhos adultos.
Escrito pela britânica Katy Brand e dirigido australiana Sophie Hyde, Boa Sorte, Leo Grande é um filme sobre desejo e a sexualidade feminina, feito por mulheres, o que faz uma diferença gigantesca. Nancy, nome fictício da personagem central, transborda veracidade. É complexa, surpreendente.
O roteiro do filme, que tem uma pegada teatral, embora não seja uma peça filmada, se passa, basicamente, no quarto de hotel em uma cidade no interior da Inglaterra. Há quatro encontros entre Nancy e Leo, ao longo dos quais a relação entre os dois vai do constrangimento absoluto a, enfim, uma maior intimidade, tanto do ponto de vista físico quanto, em certa medida, emocional. Mas também há conflito, desalinho.
Como Leo atende mulheres e homens de todas as idades, com diferentes demandas, necessidades, o filme busca, por meio do personagem, desmitificar a figura do trabalhador do sexo, o humanizando, ainda que também o romantizando um pouco, mas isso não chega a ser um problema. O rapaz é suave, fala bem, sensível e articulado, mas, descobrimos mais tarde, esconde um passado de dor e perdas.
É irônico como Nancy, apesar de sua timidez, pudor e falta de experiência sexual, se mostra, se despe, muito mais do que Leo, que, sob o pretexto de não pessoalizar a relação com seus clientes, criando vínculos (e quebrando sua aura de encanto), veste um personagem. Mesmo no hotel, quando ela sai de cena, quem se esconde por trás de Leo se deixa entrever.
O desempenho de Emma Thompson é maravilhoso, porque ela tem nas mãos uma personagem rara no cinema contemporâneo: uma mulher, protagonista, de meia-idade. Nancy vai da amargura à agressividade, do recato à extrema sinceridade sobre seus desejos, com generosas pitadas de humor. E McCormack a segue de perto, em sintonia.
Boa Sorte, Leo Grande é uma obra cinematográfica que se constrói por meio de diálogos e situações dramáticas, que dependem, sobretudo, dos seus dois atores principais. Há entre eles muita química cênica, cumplicidade, e, por conta disso, e de uma direção segura, ainda que convencional em certa medida, o filme acontece e nos afeta.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.