Um dos grandes astros latino-americanos do audiovisual contemporâneo, o ator mexicano Gael García Bernal (de E Sua Mãe Também e Diários de Motocicleta) andava meio sumido. Ele agora faz um retorno impactante em Cassandro, interpretando Saúl Armendáriz, lutador de lucha libre, tradição cultural e esportiva no México. A trama, baseada em um personagem real, se desenrola na cidade de El Paso, no estado do Texas. O filme, dirigido pelo cineasta Roger Roy Williams, está em cartaz na plataforma de streaming Amazon Prime Video.
Saúl, um jovem que sai do armário aos 15 anos, enfrenta a rejeição de seu pai, encontrando na mãe, Yocasta (a ótima Perla de la Rosa) sua principal confidente e companheira. Juntos, passam os dias lavando e passando roupas, enquanto à noite, Saúl assume a persona de El Topo (o rato), um lutador que entra no ringue com a missão de perder para oponentes mais fortes e populares.
Insatisfeito com a falta de carisma de seu personagem, Saúl busca orientação da lutadora Sabrina (Roberta Colindrez, perfeita no papel), conhecida como Lady Anarquía nos ringues, que aceita treiná-lo com a condição de que ele se dedique da mesma forma que suas lutadoras, todas mulheres. Essa parceria singular resulta em um melhor desempenho para ambos.
Como Cassandro, Saúl não apenas enfrenta seus oponentes de igual para igual, mas também cativa o público com sua personalidade ousada e exuberante, reflexos rápidos e habilidades notáveis.
Quando Sabrina julga que Saúl está pronto para enfrentar adversários maiores como alívio cômico, sugere que ele adote a persona “exótica”, uma categoria de lutadores que se vestem como drag queens ou personagens “extravagantes”. Saúl aceita a identidade com a condição de lutar para vencer, sem esconder o rosto e sem se tornar alvo de piadas homofóbicas comuns a lutadores drag. Cassandro, portanto, é um filme político, de resistência e afirmação de identidade.
Para criar seu visual “exótico”, Saúl incorpora elementos brilhantes e extravagantes, modificando roupas retiradas do guarda-roupa de sua mãe, transformando pedaços de vestidos em trajes ornamentados com pulseiras, e usando muita maquiagem. Em sua vida pessoal, o lutador enfrenta o descontentamento de seu amante, Gerardo (Raúl Castillo, da série Looking), homem casado e com filhos, que preferia a persona mais discreta – e inofensiva – encarnada por Saúl nos ringues. A exposição demasiada de Saúl, ou de Cassandro, pode colocar a sua vida dupla em risco.
Como Cassandro, Saúl não apenas enfrenta seus oponentes de igual para igual, mas também cativa o público com sua personalidade ousada e exuberante, reflexos rápidos e habilidades notáveis. Ele desafia as expectativas, ensinando o público a apoiar um lutador gay que, inegavelmente, é mais talentoso e divertido que seus adversários. Ele se distingue, portanto. Tendo em conta que a cultura mexicana é extremamente homofóbica, machista, esse feito não é pouca coisa.
Cassandro é uma narrativa cativante, provocativa e poética em alguns momentos, que explora uma relação afetuosa entre mãe e filho, enquanto destaca a coragem necessária para que um homem gay não seja subjugado em um ambiente que valoriza tanto a virilidade, a masculinidade hegemônica.
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