Há algumas semanas, milhares de fãs receberam a triste notícia de que Looking, série da HBO, foi cancelada após duas temporadas. Não demorou muito para o público da série encher as redes sociais de mensagens pedindo mais uma chance ao seriado que contava a história de Patrick, Augustin e Dom, amigos que viviam em São Francisco e exploravam as diversões, opções e dramas da nova geração de homens gays. Mas não teve jeito. Mesmo com uma base sólida de fãs e uma história promissora, a audiência da série era baixa, até para os padrões de um canal fechado como a HBO.
O público de Looking ainda está com sorte, já que a série vai ganhar um telefilme para concluir sua narrativa. Mas essa não é a regra, pelo contrário. Muitos já viram suas séries favoritas serem canceladas sem dó nem piedade. Pior: sem final. Aliás, essa crueldade acomete até as crianças, pobres coitadas: Caverna do Dragão nunca teve conclusão.
Para os que não estão familiarizados sobre as razões desse drama acontecer, uma breve explicação: a televisão aberta norte-americana aposta alto em seriados. As emissoras encomendam, geralmente, 12 episódios para a primeira temporada. Caso faça sucesso, encomendam mais dez, formando uma temporada completa de 22 episódios. Analisando a audiência a cada semana, os executivos decidem pela renovação ou pelo cancelamento. O problema disso é que algumas emissoras, especialmente a FOX, não dão tempo para que os roteiristas concluam as histórias. Não raro, séries apresentam uma ótima audiência na primeira temporada, mas caem na segunda (Pushing Daisies, Joan of Arcadia), levando o canal a cancelar a produção no meio da história. Os fãs que chorem no cantinho.
Não raro, séries apresentam uma ótima audiência na primeira temporada, mas caem na segunda, levando o canal a cancelar a produção no meio da história. Os fãs que chorem no cantinho.
Assim, a audiência sempre estará sobreposta à qualidade. Raras exceções acontecem, como 3O Rock, Parks and Recreation e Hannibal, séries com audiência baixa, mas que foram renovadas graças aos prêmios e opinião da crítica especializada. Isso diz muito sobre o crescimento das produções de tevê a cabo e streaming, já que eles caminham numa direção oposta. Mesmo que várias séries apresentem uma audiência baixa, esses canais não dependem exclusivamente dos lucros dos números de televisores ligados. Aliás, as séries da televisão aberta acabam sendo salvas de um iminente cancelamento, como foram os casos das excelentes Damages, The Killing e Friday Night Lights.
Sei que você, caro leitor, já sofreu essa injustiça na vida. Lamento dizer que vai sofrer muitas vezes ainda, especialmente enquanto os canais não entenderem que a forma de consumir entretenimento mudou consideravelmente. Com aparelhos que gravam horas de programação, sites streaming tomando a preferência do público e os sempre fiéis e polêmicos torrents à disposição, audiência não quer dizer muita coisa.
Abaixo, uma pequena lista de séries que foram canceladas precocemente, mas que merecem ser vistas em um sábado chuvoso. Só não pode se apegar porque já é tarde demais.
Tru Calling (2003, FOX)

Essa durou apenas duas temporadas e foi uma pequena amostra da falta de respeito dos canais para com seu público. Na segunda temporada, a FOX achou que a audiência estava aquém do esperado e cancelou a série no meio da história. Acabou sem final e com um episódio aleatório.
Sinopse: E se você tivesse o poder de reviver o passado e mudar o futuro? Tru Davies (Elisa Dushku, de Buffy, a caça-vampiros) enfrenta essa questão depois de falhar ao tentar entrar no curso de Medicina e começar a trabalhar no necrotério da cidade. Sozinha na sua primeira noite no trabalho, o corpo de uma mulher abre os olhos e pede ajuda. Tru acorda e descobre que vai reviver o mesmo dia, só que agora ela pode mudar o destino das pessoas que entraram no necrotério na noite anterior e também de os conseguir encontrar antes da tragédia acontecer. Assista ao trailer aqui.
Reunion (2005, FOX)

De novo a FOX. Após nove episódios exibidos e um enredo instigante, a emissora decidiu cancelá-la sem produzir seu desfecho, deixando os fãs sem saber quem matou Samantha. A emissora ainda pediu quatro episódios adicionais, que poderiam ser transmitidos ou não. Esses episódios nunca foram ao ar nos Estados Unidos, apenas nos países que adquiriram a série. No Brasil, foi comprado pela Warner e pelo SBT. Os criadores deram uma entrevista contando como seria o final. O SBT, então, exibiu todos os episódios produzidos e colocou um letreiro para contar o que houve com os personagens. Deprimente, mas com um pouco de dignidade.
Sinopse: A série mostra o que ocorreu ao longo de vinte anos na vida dos amigos Samantha, Carla, Craig, Will, Aaron e Jenna. Cada episódio corresponde a um ano de suas vidas, começando a partir de 1986 durante a graduação dos 6 amigos na cidade de Bedford, em Nova York. Cada episódio também intercede com os momentos atuais, quando um detetive investiga a morte de um dos amigos no dia da festa de 20 anos de graduação, em 2006. Você pode ver o primeiro episódio da série aqui.
Minha Vida de Cão (My So-Called Life, 1994, ABC)

Provavelmente temos aqui a série adolescente mais subestimada de todos os tempos e um dos cancelamentos mais injustos da história. Transmitida pela ABC e no Brasil pelo SBT, Minha Vida de Cão vai muito além dos estereótipos batidos de séries teens e apresenta um conteúdo denso e inteligente. A atuação da jovem Claire Danes (Homeland) torna sua personagem Angela uma adolescente perfeitamente crível. Na época, os críticos disseram que a série era “inteligente demais” para o público. Sendo verdade ou não, Minha Vida de Cão introduziu temas importantes na televisão no início dos anos 90, como homofobia, abuso infantil, alcoolismo entre os jovens, bullying e uso de drogas, tudo isso sem qualquer lição de moral ou didatismo. Vinte anos após sua estreia, a série continua atemporal e merece ser vista e revista.
Sinopse: Retratada no início dos anos 90, a série mostra os dramas da adolescência a partir do olhar de uma menina de 15 anos. Assista ao trailer aqui.
Studio 60 on the Sunset Strip (2006, NBC)

Criada por Aaron Sorkin (The West Wing, The Newsroom), Studio 60 é um exemplo típico de série com cara de canal fechado que acabou se dando mal num canal aberto. Com um texto inteligente e cheio de críticas ao modus operandi da produção de um programa de TV nos EUA, a série discutia o moralismo e o politicamente correto de produções como Saturday Night Live. Durou apenas uma temporada.
Sinopse: Quando o problemático produtor executivo de um veterano programa de comédia de fim de noite interrompe a exibição ao vivo e tem um chilique em pleno ar, a indústria, a imprensa e os telespectadores ficam espantados. Após esse desastroso momento, a confiante presidente de entretenimento da emissora, Jordan McDeere (Amanda Peet), que está numa disputa contra o presidente do canal, Jack Rudolph (Steven Weber), tenta manter o sucesso do programa ao recontratar a brilhante e imprevisível dupla formada pelo roteirista Matt Albie (Matthew Perry) e pelo produtor Danny Tripp (Bradley Whitford) — que deixaram o programa há alguns anos sob muitas controvérsias. Assista ao trailer aqui.
Pushing Daisies (2007, ABC)

Essa foi a queridinha de muita gente e, embora tenha começado a ficar cansativa em sua segunda temporada, poderia ter rendido muito mais, até porque era criação de Bryan Fuller (Hannibal), atualmente um dos roteiristas mais criativos da indústria. Colorida, com personagens carismáticos e uma história original, a série foi cancelada sem final. O interessante é que sua primeira temporada teve grande audiência, indicações a prêmios e foi considerada a melhor série daquele ano por vários críticos. Uma pena.
Sinopse: A série mostra o estranho mundo de Ned (Lee Pace), um homem que pode trazer pessoas mortas de volta à vida com o poder de seu toque. Mas Ned não pode tocar a pessoa novamente, senão ela morre definitivamente. Então, Ned decide usar a sua habilidade para resolver crimes. Ele e o investigador local, Emerson (Chi McBride), trazem vítimas de assassinato de volta à vida para descobrir quem as matou. Mas quando Ned ressuscita seu grande amor, as coisas começam a ficar complicadas. Assista ao trailer aqui.
Menções honrosas
Joan of Arcadia, Dead Like Me, Freaks and Geeks e todas aquelas que sentimos falta.
E para você, qual série foi cancelada injustamente?