Falar do desfecho de um filme em uma resenha é, talvez, um pecado mortal. O leitor pode, com todo o direito, colocar você em sua lista negra, e passar a evitar todo e qualquer texto que carregue sua assinatura. Mas não se preocupe: vou evitar, aqui, adiantar detalhes sobre o fim de Cidades de Papel. Faço questão, no entanto, de ressaltar que a adaptação do livro de John Green não subestima a inteligência do espectador no arremate de sua trama. Tendo dito isso, vamos ao filme.
Green, um dos autores mais populares do mundo entre adolescentes e jovens adultos, tem a seu favor a capacidade de, sem escapar a fórmulas folhetinescas consagradas, criar personagens verossímeis, complexos e, por isso, em certa medida menos previsíveis do que os que costumam povoar esse tipo de romance.
Como em A Culpa É das Estrelas, gigantesco sucesso de bilheteria no Brasil, há na trama de Cidades de Papel uma história de amor adolescente. A diferença aqui é que não se trata de um romance consumado, e sim de uma promessa, de uma possibilidade, em torno da qual o enredo é construído.
Margo Roth Spiegelman (a inglesa Cara Delevingne, de Anna Karenina) é uma adolescente de personalidade muito peculiar: independente, original, está sempre disposta a surpreender quem a cerca. À distância, ela é objeto do afeto de seu tímido vizinho Quentin Jacobsen (Nat Wolff). Quando crianças, os dois eram muito próximos, mas à medida em que cresceram, se afastaram, em decorrência de suas personalidades opostas.
Como no sucesso A Culpa É das Estrelas, gigantesco sucesso de bilheteria no Brasil, há na trama de Cidades de Papel uma história de amor adolescente.
Uma noite, semanas antes de os dois terminarem o ensino médio, Margo invade o quarto de Quentin durante a noite e o intima a participar de um complexo plano de vingança contra seu namorado, que a traiu com uma de suas amigas, e outros integrantes da mesma turma, que sabiam da infidelidade, mas a mantiveram em segredo.
Nesta noite, Margo e Quentin voltam a se aproximar, e resgatam um pouco da cumplicidade que tinham quando crianças. O encontro, provocado por ela, confirma o que ele já sabia: é apaixonado pela amiga de infância e, pela primeira vez em muito anos, ela está ao seu alcance. Mas não por muito tempo: Margo desaparece no dia seguinte, sem deixar qualquer explicação para seu sumiço.
Inconformado, Quentin tenta descobrir, em companhia de uma turma de amigos, o paradeiro de Margo. Aos poucos, vai percebendo que a garota deixou uma série de pistas, que vão de trechos de livros a mapas rasgados, que podem ou não levá-lo a ela. E ele alimenta a esperança de que esses rastros sejam demonstrações veladas de que Margo retribui seus sentimentos.
Bem menos melodramático do que A Culpa É das Estrelas, o filme de Jake Schreier (de Frank e o Robô) se desenvolve em torno do mistério do desaparecimento de Margo e da busca de Quentin por essa menina, que o faz sair de sua zona de conforto e arriscar-se em uma aventura que o marcará por toda a vida.
Essa premissa poderia ter rendido mais: Cidades de Papel, apesar do elenco jovem bastante carismático e dos personagens bem delineados, não consegue emocionar tanto, envolver o espectador, quanto seu argumento promete. Há algo faltando, que talvez esteja ligado à linearidade do roteiro e à incapacidade de Margo preencher o vazio que deixa quando sai da trama, que, como já foi dito acima, tem um desfecho bastante interessante. Talvez essa história, a do desaparecimento da personagem, renda um livro e um filme melhor no futuro.
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