Michael Bryce (Ryan Reynolds) é um guarda-costas prestigiado. “Classe A”, como ele faz questão de destacar. Até que um erro lança o pobre homem escadaria abaixo na severa hierarquia do seleto universo dos seguranças de elite. Na verdade, o que ele faz é escoltar figurões com ficha não muito limpa. Darius Kincaid (Samuel L. Jackson) é um assassino de muitos, que se vangloria de varrer do mapa justamente figurões com ficha não muito limpa. Michael e Kincaid são opostos na relação que mantêm com o mundo do crime. Muito opostos.
Quis o destino (ou o roteiro de Tom O’Connor) que o primeiro precisasse escoltar o segundo. E eis que, então, surge Dupla Explosiva (2017), filme que é, ao mesmo tempo, de ação, comédia e policial, com direção de Patrick Hughes. Michael precisa fazer Kincaid chegar ileso ao Tribunal de Haia, onde está acontecendo o julgamento de Vladislav Dukhovich, presidente da Bielorrússia.
Dukhovich é acusado de genocídio e, com o auxílio de muitos, mata todas as testemunhas que ousam tentar chegar ao tribunal. Kincaid é uma delas. Michael é o guarda-costas. Quer o roteiro de Tom O’Connor que a dupla explosiva tenha bastante trabalho. Os agentes de proteção do ditador bielorrusso parecem bactérias. Surgem aos montes, são mortos aos montes, mas ressurgem aos montes.
Qualquer excesso ou clichê do gênero de ação policial, contudo, é superado pelo bom humor e pela dinâmica excepcional entre Ryan Reynolds e Samuel L. Jackson numa trama que envolve a Interpol, traições, tiro, porrada e bomba. E, claro, bastante sangue. Mas entre os jatos vermelhos e poças vermelhas, o que prevalece é o riso. O entretenimento. A diversão.
Dupla Explosiva implode o mau humor e lança para longe a sensação de reciclagem de um gênero, a sensação de estarmos diante de incontáveis clichês.
Da cena em que Michael chama Kincaid de “ímã de caixão” àquela na qual um grupo de freiras que lota uma van apaixona-se pelo criminoso e ignora o guarda-costas (numa cômica e, ao mesmo tempo, séria reflexão sobre o bem e o mal, sobre quem é bandido e quem é o mocinho), Dupla Explosiva implode o mau humor e lança para longe a sensação de reciclagem de um gênero, a sensação de estarmos diante de incontáveis clichês.
A impressão é que você já viu isso tudo um milhão (e meio) de vezes, mas que ainda, assim, consegue encontrar elementos que atraem a atenção e divertem. O mérito é da construção dos diálogos, da elaboração do roteiro e da interpretação inspirada da dupla de protagonistas.
Os coadjuvantes enriquecem a trama. Salma Hayek diverte como Sonia, a irritadíssima esposa de Kincaid e motivadora de uma decisão importante do marido. Gary Oldman (Drácula de Bram Stoker, 1992) chama a atenção pela pessoa de carne e osso à qual o seu personagem quer homenagear. Ou ridicularizar. O seu Vladislav Dukhovich é claramente inspirado em Alexander Lukashenko, o verdadeiro presidente da Bielorrússia. No poder desde 1994, Lukashenko chegou a indicar vodca e sauna para curar Covid.
Agora, resta conferir se a alta expectativa alimentada pela continuação será ou não confirmada. Dupla Explosiva 2 e a Primeira Dama do Crime (2021) tem previsão de lançamento para julho.
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