Lance (interpretado por Patrick Schwarzenegger, filho de Arnold Schwarzenegger) conclui seu curso superior em artes e sonha em trabalhar nessa área. Mas o que encontra é negação, a promessa evasiva de uma oportunidade futura, a observação de que é muito qualificado para a vaga e uma infinidade de respostas dessa natureza. Você já se identificou, por acaso, com o personagem? Muito provavelmente sim. Até porque essa situação bem verossímil provém mesmo da vida real. A história de Echo Boomers: A Geração Esquecida (2020), reforça a lista de obras cinematográficas que usam fatos como matéria-prima para seu roteiro.
Sem perspectiva de emprego e com dificuldades para ingressar na engrenagem de um sistema que considera muito injusto, Lance acaba cedendo ao “canto da sereia” de um grupo de jovens liderados por Ellis Beck (Alex Pettyfer). Bastante críticos do sistema, eles invadem mansões para furtar itens de valor e, ao depredá-las, passar sua mensagem de insatisfação. Segundo a definição de Lance, são uma espécie de “artistas da destruição”.
“Por que trabalhar para um sistema que fracassou?” “Por que seguir as regras do sistema corrompido”, considerando que, hoje, “o 1% mais rico controla mais riqueza do que nos últimos 50 anos”? Essas são algumas provocações lançadas pelo roteiro escrito pelo próprio diretor Seth Savoy, em conjunto com Kevin Bernhardt e Jason Miller. Os itens furtados são repassados para Mel (Michael Shannon) que, por sua vez, negocia com outros interessados e, assim, lucra com a ação do grupo.
A história abre margem para muitas possibilidades de reflexão sobre o limite nebuloso, incerto, não tão fácil de definir entre o justo e o injusto; o protesto e a criminalidade; a luta por um mundo melhor e a radicalização da insatisfação.
Preguiçosos? Adeptos da filosofia de ganhar dinheiro fácil? Revolucionários? Fracos? Criminosos? Neoativistas? Como, enfim, definir os integrantes da equipe liderada por Ellis e estimulada por Mel? Não se pode negar que a história abre margem para o surgimento dessas interrogações e, também, muitas possibilidades de reflexão sobre o limite nebuloso, incerto, não tão fácil de definir entre o justo e o injusto; o protesto e a criminalidade; a fraqueza e a prática de atitudes capazes de provocar uma revolução; a inquietude que motiva reflexões mais profundas e a busca de soluções fáceis para os problemas financeiros; a luta por um mundo melhor e a radicalização da insatisfação. É bastante rico o fragmento da trama que realiza uma análise das motivações de cada um dos integrantes do grupo sob uma ótica psicológica.
A história convida o espectador a deixar de lado o olhar raso, a avaliação rápida e cômoda para tecer considerações melhor elaboradas que alcançam toda uma geração. Não à toa, o próprio título Echo Boomers e os minutos iniciais da produção mencionam claramente um conflito de pessoas de tempos diferentes, um abismo entre formas de ver a vida, principalmente quando o assunto é mercado de trabalho.
A geração à qual pertencem os jovens retratados pelo filme seria um “eco” da geração anterior, os boomers, insatisfeita com o sistema e preocupada em ter mais qualidade de vida. Tanto que uma das lições anotadas por Lance é a seguinte: “Experiências são melhores do que extratos bancários”. Fica a provocação para assistir ao filme. E, depois, as provocações que ele alimenta.