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A modernidade líquida do drama chileno ‘Ema’

Novo filme de Pablo Larraín, ‘Ema’ é um caleidoscópio de sensações visuais e sonoras, que parte do enfoque particular da atual geração de jovens do Chile para uma visão mais universal de um mundo onde os valores não são sólidos.

porTiago Bubniak
12 de maio de 2020
em Cinema
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Ema (Mariana Di Girolamo) e Gastón (Gael García Bernal): relacionamento tenso em meio a exuberância visual e sonora. Imagem: Divulgação.

Ema (Mariana Di Girolamo) e Gastón (Gael García Bernal): relacionamento tenso em meio a exuberância visual e sonora. Imagem: Divulgação.

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Quando o chileno Ema (2019) começa, a tela está totalmente tomada pela escuridão. Um som de pingos de chuva surge, bem baixo, discreto. Aos poucos, esse som aumenta e fica mais perceptível. É chuva. Ou, pelo menos, parece chuva. Quando a escuridão dá lugar à imagem, o que o espectador vê é um semáforo em chamas. Não era chuva. O som, portanto, que parecia uma coisa e revela-se outra, é som de fogo destruindo especificamente um objeto que simboliza ordem, segurança, organização no caos do trânsito; som de fogo queimando uma convenção social e mundialmente aceita. A cena ganha um simbolismo muito grande na medida em que a trama transcorre.

Esse “parece, mas não é”, a destruição de uma convenção tem muita relação com a personagem-título deste filme dirigido por Pablo Larraín e tudo o mais que ao redor dela orbita. O que o diretor e os roteiristas Guillermo Calderón e Alejandro Moreno fazem é usar a história da bailarina Ema (Mariana Di Girolamo) e de seu casamento com Gastón (Gael García Bernal) para falar da atual geração de jovens chilenos. Isso em uma leitura particular. Em termos mais universais, no entanto, é tranquilamente possível afirmar que o filme faz um retrato da “modernidade líquida”, tomando aqui o famoso conceito do filósofo polonês Zygmunt Bauman. É um mundo de valores pouco sólidos, que escorrem, transbordam, secam, evaporam e, sobretudo, adquirem a forma do ambiente que os contém, para usar a bela metáfora do filósofo polonês, lembrando que os líquidos tomam a forma dos recipientes que os contém.

Ema está casada com Gastón, o diretor da companhia de dança da qual ela participa, doze anos mais velho. Há um conflito de gerações aí. Ela está com seu marido, mas, ao mesmo tempo, dá início a um processo de divórcio. E arrepende-se. Os dois estão em conflito, principalmente, porque adotaram um filho, mas arrependeram-se e devolveram o menino. Isso causou muita indignação por parte de algumas pessoas próximas. Depois, eles se arrependem de ter se arrependido de adotar e, assim, acabam discutindo sobre o que aconteceu e como estaria o menino hoje. Eles usaram um filho, um ser humano em formação, para “brincar de boneca”, acusam alguns, apontando o que seria falta de maturidade e firmeza das decisões.

Ema até tem, pode-se dizer, um quê de Pedro Almodóvar. Há personagens inquietos, grande destaque à abordagem de situações eróticas e sexuais e o colorido intenso de várias cenas.

Ema tem um comportamento que tanto pode ser interpretado como libertário, livre de amarras, quanto sem orientação e rumo. Para falar desse conteúdo cheio de idas e vindas sentimentais, a forma investe em muitas cores e sons, compondo uma espécie de caleidoscópio de sensações visuais e sonoras. O filme até tem, pode-se dizer, um quê de Pedro Almodóvar. Há personagens inquietos, grande destaque à abordagem de situações eróticas e sexuais e o colorido intenso de várias cenas, características marcantes do cineasta espanhol.

Ema é cheio de símbolos, para além dos segundos iniciais envolvendo a queima do semáforo. O próprio nome da protagonista, que forma a palavra “ame” caso seja lido ao contrário, pode ser interpretado como uma metáfora do “amor de trás para a frente”, do amor que é amor mas parece que não é amor. Ela resolve adotar, abandona o filho, arrepende-se do que fez; fica com o marido, mas parece que não fica, já que mantém relacionamentos sexuais com várias outras pessoas.

Em meio a essa liquidez toda, a dança surge como escape. Quando há pressões e conflitos, Ema desliza dançando pelas ruas de Valparaíso, a cidade onde a trama acontece. A trilha sonora, sob a responsabilidade do compositor Nicolas Jaar, destaca o reggaeton. O cenário de uma das apresentações de dança lembra tanto o planeta Terra, quanto o sol ou mesmo um óvulo, fazendo referência indireta ao fato de Gastón ser infértil.

Acabamos vendo que a personagem-título é piromaníaca, ama brincar com fogo. Literal e metaforicamente. Mas se a piromania, “a ferro e fogo”, é considerada um distúrbio psicológico, na trama de Ema esse comportamento confunde-se com a poesia e os tons libertários de uma… performance artística. Coletiva. E com direito a selfies.

Da piromania cheia de significados dos segundos iniciais à cena também simbólica que encerra o filme, passando por várias apresentações sensuais e coloridas de reggaeton, Ema deixa claro que extrapola o retrato apenas da atual geração de jovens chilenos. Numa leitura mais universal, o filme desemboca mesmo em uma representação da “modernidade líquida”.

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Tags: CinemaCríticaCrítica CinematográficaCrítica de Cinemadrama chilenoEmaFilm ReviewGael García BernalMariana Di GirolamoMovie ReviewPablo LarraínResenhaReviewZygmunt Bauman

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