O público norte-americano costuma adotar o comportamento de avestruz quando o país enfrenta crises políticas e econômicas, ou entra em guerras. Prefere enfiar a cabeça na areia do escapismo. Tanto que em períodos como a Grande Depressão, na década de 1930, ou a Segunda Guerra Mundial, nos anos 40, gêneros como o musical e a comédia quebravam recordes de bilheteria e lotavam os cinemas. Esse comportamento não mudou. Desde os ataques do 11 de setembro de 2001, várias tentativas foram feitas de discutir temas como a política externa dos EUA e as guerras no Iraque, no Afeganistão. Todas fracassaram comercialmente. Até a consagração (pela crítica) de Guerra ao Terror (2009) e A Hora Mais Escura (2012), ambos dirigidos por Kathryn Bigelow.
Vencedor de seis Oscars, entre eles o de melhor filme, o drama bélico de Bigelow, única mulher laureada com a estatueta de melhor direção na história do prêmio, não foi um grande sucesso ao ser lançado no primeiro semestre de 2009. Há dez anos, portanto. Havia sido exibido no Festival de Veneza em 2008 e, apesar das unânimes resenhas positivas, teve o mesmo fim de outros longas que ousaram discutir a Guerra do Iraque, como No Vale das Sombras, de Paul Haggis. Teve breve vida útil nos cinemas, acumulando uma bilheteria tímida de US$ 16 milhões. Esse desempenho talvez justifique o fato de Guerra ao Terror ter sido lançado direto em DVD no Brasil antes de finalmente chegar aos cinemas quando o filmes tornou-se favorito ao Oscar.
Tenso, vigoroso e envolvente da primeira à última cena, Guerra ao Terror, um dos melhores longas-metragens da década passada, não discute a política externa americana ou mesmo se a intervenção militar no Iraque é justa ou não. Prefere, aos moldes de clássicos do gênero como Johnny Vai à Guerra, Apocalipse Now e Nascido para Matar, desvelar o absurdo de todo e qualquer conflito bélico. Para isso, centra seu foco em um esquadrão antibombas dos EUA.
Vencedor de seis Oscars, entre eles o de melhor filme, o drama bélico de Bigelow não foi um grande sucesso ao ser lançado no primeiro semestre de 2009.
Na primeira e eletrizante sequência, vê-se um oficial (Guy Pearce, de Amnésia), especialista em desarmar artefatos explosivos, enfrentando uma missão da qual não sairá ileso. Para substitui-lo, entrará em cena o intrépido oficial William James (Jeremy Renner, de Vingadores: Ultimato). Sua postura entre a arrogância e a psicopatia tira seus companheiros do sério: ele parece obter prazer em estar no limite entre a vida e morte, colocando todos em risco.
Sem cair no panfletário ou ceder à tentação de apontar mocinhos e bandidos, Kathryn Bigelow, escorada pelo excelente roteiro de Mark Boal, perscruta a subjetividade dos seus personagens. Sobretudo o complexo e atribulado relacionamento entre William e os dois outros soldados da mesma unidade, o rígido JT (Anthony Mackie) e o frágil Owen (Brian Geraghty). Investe nas particularidades desse microcosmo, dissecando-o em detalhes, para refletir sobre um tema universal e atemporal. Fez um extraordinário filme de guerra. Intimista e atemporal.
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