Demorou, mas aconteceu. Com o estrondo mundial de Coringa, Joaquin Phoenix, um dos grandes atores de sua geração, consolidou-se também como “astro de cinema” planetário. O mais perto que havia chegado desse status foi, em 2005, com o drama musical Johnny & June, longa-metragem de James Mangold que reconstitui a juventude de Johnny Cash, um dos maiores ícones da cultura pop norte-americana, morto em 12 de setembro de 2003.
Menos conhecido no Brasil do que Elvis Presley, Cash talvez nunca tenha alcançado renome internacional na proporção do “rei do rock” porque a grande força de suas canções estava nas letras. Confessionais, por vezes depressivas e, invariavelmente, embotadas de sinceridade, falavam da vida nos presídios, sobre o consumo de drogas e a respeito de solidão, amores turbulentos e exclusão social.
Maior cantor da country music de todos os tempos, Cash não foi limitado pelo gênero musical que abraçou. Com fortes ecos do gospel (branco e negro) e do rock and roll, sua obra teve enorme ressonância em muito do que é produzido até os dias de hoje no cenário pop internacional. Tanto que o artista é endeusado por diversas tribos em todos os cantos do planeta.
Maior cantor da country music de todos os tempos, Cash não foi limitado pelo gênero musical que abraçou.
Com o sucesso de Johnny & June – que rendeu a Reese Witherspoon o Oscar de melhor atriz por seu desempenho como a cantora e compositora June Carter, esposa de Cash -, iniciou-se uma espécie de revival do legado do artista, que, passados 14 anos do lançamento do filme, segue firme e forte.
Ganharam o mundo músicas como “Ring of Fire”, criação de June Carter, e “Walk the Line” (título original do filme de Mangold), que fala da dificuldade de Cash, um mulherengo inveterado e ávido consumidor de drogas, em andar na linha. Outro de seus grandes hits foram “A Boy Name Sue”, sobre as agruras de um garoto com nome de mulher; “San Quentin” e “Folsom Prison Blues”, a respeito da dura vida em presídios americanos; e “Man in Black”, uma explicação musical para o fato do artista ter optado pelo preto como sua cor-assinatura.
Quase todas as músicas citadas acima, especialmente as gravadas no início da carreira de Cash, estão na trilha de Johnny & June. O diferencial está no fato de terem sido gravadas pelos atores do filme. Joaquin Phoenix se sai muito bem, porque conseguiu encontrar na voz um tom grave e dramático, próximo mas não idêntico ao registro de Cash.
Phoenix, indicado ao Oscar mas derrotado por Phillp Seymour Hoffman (Capote), tem um desempenho nuançado em um filme dramaticamente muito consistente, apesar de convencional em termos de cinebiografia. Reese Witherspoon, embora superestimada, uma vez que seu papel no longa é mais de coadjuvante do que de protagonista, também convence como o grande amor da vida do cantor, um dos personagens mais interessantes de música do século 20.
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