Quando Parque dos Dinossauros foi lançado, em 1993, o mundo foi tomado de assalto pelo encantamento de ver, na tela grande, em uma superprodução, essas criaturas de outro tempo, que não o da espécie humana.
De quebra, o filme, baseado na obra do escritor Michael Crichton, que também era médico e cientista, questionava os limites de nossa humanidade e ambição, ao recriar seres extintos há 65 milhões de anos.
Por trás do gigantesco sucesso do filme, no entanto, havia outro fato definitivo: a destreza e inventividade de seu diretor, Steven Spielberg, um dos maiores contadores de histórias de nosso tempo, capaz de, em uma mesma obra cinematográfica, fazer com que o público sinta medo, se deslumbre e chore.
Passados quase 30 anos, e vários títulos da franquia depois, a magia se dissolveu, de certa maneira, por mais que os dinossauros continuem sendo fascinantes.
Jurassic World: Domínio, em cartaz nos cinemas, é um grande sucesso de bilheteria: já rendeu US$ 640 milhões ao redor do mundo, que, no filme, foi invadido por tiranossauros e giganotossauros, que podem ser vistos planeta afora como se fossem elefantes, rinocerontes e girafas.
Na verdade, eles “convivem”, nem sempre pacificamente, com esses bichos mais triviais, após serem soltos por vontade humana, graças a um uso ganancioso e predatório da ciência e a uma sede descontrolada pelo poder.
Os efeitos visuais e sonoros Jurassic World: Domínio não parecem estar a serviço do enredo e, sim, o contrário.
Dirigido por Colin Trevorrow, que definitivamente não é Spielberg, Jurassic World: Domínio não chega a ser um desastre, mas comete um pecado ainda mais grave para uma franquia que iniciou pelas mãos de um gênio da narrativa cinematográfica: é genérico, sem qualquer personalidade.
Como os animais já não chocam muito, apesar do esplendor técnico do filme, a grande “atração” do longa fica por conta do encontro do elenco atual da franquia com os veteranos que estrelaram Parque dos Dinossauros.
O encantador de dinos bonitão Owen Grady (Chris Pratt) e a insuportável Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) se unem aos bem mais interessantes Ellie Sattler (Laura Dern), Alan Grant (Sam Neill) e Ian Malcolm (Jeff Goldblum), que representam a ciência que fundou a franquia, em uma trama meio desconjuntada.
O enredo mistura clonagem humana, gafanhotos gigantes que podem levar à fome mundial e, como não poderia deixar de ser, um empresário ganancioso ao extremo e fora da casinha, à la Elon Musk, vivido por Campbell Scott.
Spielberg, ainda produtor executivo da franquia, faz enorme falta na direção, porque as cenas de ação, nas mãos de Trevorrow, resultam apenas ruidosas e derivativas dos dois filmes iniciais.
Falta-lhe a habilidade de construir, aos poucos, o clima de tensão, de medo, até o clímax, que está associado a exuberância visual e técnica, mas não é refém dela. Os efeitos visuais e sonoros de Jurassic World: Domínio não parecem estar a serviço do enredo e, sim, o contrário.
Sem a complexidade científica do primeiro filme, proporcionada por Crichton, e sua discussão moral e ética, sobre as ambições humanas, sobra um tanto de humor, não tão inspirado, muito barulho, sustos e correria. É pouco.
VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, QUE TAL CONSIDERAR SER NOSSO APOIADOR?
Jornalismo de qualidade tem preço, mas não pode ter limitações. Diferente de outros veículos, nosso conteúdo está disponível para leitura gratuita e sem restrições. Fazemos isso porque acreditamos que a informação deva ser livre.
Para continuar a existir, Escotilha precisa do seu incentivo através de nossa campanha de financiamento via assinatura recorrente. Você pode contribuir a partir de R$ 8,00 mensais. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.
Se preferir, faça uma contribuição pontual através de nosso PIX: pix@escotilha.com.br. Você pode fazer uma contribuição de qualquer valor – uma forma rápida e simples de demonstrar seu apoio ao nosso trabalho. Impulsione o trabalho de quem impulsiona a cultura. Muito obrigado.