A narrativa de Levante, impactante longa-metragem de estreia da cineasta brasileira Lillah Halla, mergulha profundamente na vida de Sofia, uma adolescente de 17 anos (interpretada por Ayomi Domenica Dias, excelente), moradora da periferia de São Paulo, que encontra em seu talento para o vôlei uma oportunidade de transformar seu futuro. Sua habilidade no esporte chama a atenção de olheiros, que veem nela potencial para uma bolsa de estudos no Chile. Um horizonte brilhante que se abre diante dela.
A trajetória de Sofia sofre uma reviravolta dolorosa ao descobrir que está grávida. A notícia é ainda mais devastadora devido à legislação brasileira, que criminaliza o aborto, forçando Sofia a enfrentar uma escolha angustiante. Determinada a interromper a gravidez, ela pesquisa clínicas de aborto na internet, mas acaba caindo em uma armadilha: o lugar é, na verdade, uma fachada para um grupo fundamentalista cristão anti-aborto e agora tem acesso a seus dados pessoais.
Enquanto lida com essa ameaça, Sofia também enfrenta desafios em sua vida familiar. Sua mãe está ausente, e seu pai, embora amoroso, está imerso em suas próprias paixões, como a apicultura e a criação de vídeos sobre sua prática para o YouTube, o que o impede de perceber a solidão e o sofrimento de sua filha até que a verdade venha à toma.
Nesse momento de desespero e isolamento, Sofia encontra dentro de si uma coragem surpreendente para enfrentar a batalha que se apresenta, mostrando uma determinação feroz que inspira. Além disso, ela desfruta de um relacionamento afetivo com Bel (Loro Bardot), companheira de equipe cuja presença em sua vida é tanto um apoio quanto uma fonte de afetividade.
‘Levante’: irmandade queer
O longa-metragem de estreia de Lillah Halla recebeu o Prêmio Fipresci no Festival de Cannes 2023, do qual participou na mostra paralela Semana da Crítica.
Levante, já em cartaz nos cinemas brasileiros, não apenas aborda temas sensíveis e urgentes, como os direitos reprodutivos das mulheres e a necessidade de autonomia sobre seus próprios corpos, mas também destaca a importância da irmandade queer em um cenário conservador – a equipe de vôlei da qual Sofia faz parte é integrada por jovens de vários gêneros e orientações sexuais. paralela
Apesar de em alguns momentos pecar pela abordagem didática, um mal menor a meu ver, e problemas de ritmo, Levante tem uma energia contagiante e envolve pela profundidade emocional das relações entre as personagens. Sua narrativa corajosa e direta certamente ressoa, questiona e provoca reflexão.
Tematicamente, Levante tem paralelos com filmes como Nunca, Raramente Sempre, da norte-americana Eliza Hittman, e O Acontecimento, da francesa Audrey Diwan.
O longa-metragem de estreia de Lillah Halla recebeu o Prêmio Fipresci no Festival de Cannes 2023, do qual participou na mostra paralela Semana da Crítica. Também recebeu, na última edição do Festival do Rio, os prêmios de melhor direção e montagem.
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