A cinebiografia Maestro recebeu nesta semana quatro indicações ao Globo de Ouro, entre elas as de melhor filme (drama) e direção. Não mereceu! O longa-metragem, dirigido e estrelado por Bradley Cooper (de Nasce uma Estrela), e produzido por Martin Scorsese e Steven Spielberg, explora de forma superficial a complexa vida de Leonard Bernstein (1918-1990), marcada por sua genialidade musical e suas contribuições notáveis para o universo da regência e da composição.
A jornada cinematográfica começa com a maturidade de Bernstein, presente em uma entrevista reflexiva sobre sua trajetória, para então retroceder aos anos de juventude. Nesse período, o filme revela um Bernstein talentoso ao piano, antevendo uma carreira revolucionária que se solidificaria com a criação de West Side Story, o renomado musical conhecido no Brasil como Amor, Sublime Amor.
O coração da narrativa reside no relacionamento de Bernstein com a atriz Felicia Montealegre (interpretada brilhantemente por Carey Mulligan). Entretanto, os conflitos surgem em grande parte devido à bissexualidade de Bernstein e seus relacionamentos com homens. O filme, por vezes, parece hesitar ao explorar essa faceta, mantendo-se dentro de limites heteronormativos e não se aprofundando suficientemente nessa complexidade.
A atuação de Cooper, que é até um bom ator, não vai além de ficar muito parecido, de soar e se mover como Bernstein. É um simulacro apenas. Carey, por sua vez, traz alma para sua personagem e é o coração sensível do longa.
Cooper utiliza recursos visuais e gestuais discretos para representar a orientação sexual de Bernstein ao longo do tempo, confiando na percepção do espectador para captar nuances, mas evitando uma abordagem explícita. Esse pudor todo parece dizer que seus trelacionamentos com homens são apenas recreativos, carnais, e sua verdadeira felicidade estava apenas ao lado da esposa e dos filhos. Uma visão no mínimo redutora e conservadora.
‘Maestro’: aspectos pessoais
A atuação de Cooper, que é até um bom ator, não vai além de ficar muito parecido, de soar e se mover como Bernstein. Mas é um simulacro apenas.
Cada fase da vida de Bernstein é pintada com cores distintas: a juventude, retratada sem muito motivo em preto e branco, transborda agilidade e otimismo, mas, em alguns momentos, roça a superficialidade, assemelhando-se a um espetáculo musical mediano, enquanto a fase adulta e a velhice adquirem uma aura mais séria, especialmente nas tensões entre Bernstein e Felicia – o filme melhora um pouco a partir daí.
No entanto, Maestro por vezes deixa questões importantes no subtexto, sem explorar completamente aspectos cruciais. Bernstein simplifica rumores sobre sua conduta sexual para a filha, diminuindo a complexidade do tema. Antes, chega a negar.
Ao concentrar-se predominantemente nos aspectos pessoais, o filme relega ao segundo plano as notáveis contribuições de Bernstein para a história da música: sua genialidade, sua maestria ao piano e sua renomada carreira internacional como regente. Tudo isso parece não importar muito para Cooper.
Essa é uma armadilha comum em cinebiografias, nas quais figuras de destaque são reduzidas a sua esfera pessoal, deixando de lado suas conquistas extraordinárias. Maestro não é desprovido de méritos, mas está mais interessado em ser indicado ao Oscar a qualquer custo do que em explorar a verdadeira profundidade e complexidade desse notável ícone da história da música.
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