A escolha do diretor Hayao Miyazaki, mestre do cinema de animação japonês, de permanecer aposentado foi tão inesperada quanto uma das suas próprias criações fantásticas, mas seu retorno foi recebido com grande alívio e celebração. Seu mais recente filme, O Menino e a Garça, oferece exatamente o que dele esperamos: uma narrativa sensível sobre a relação de um jovem com o mundo natural, que se revela como um portal para um reino sobrenatural.
A jornada de Mahito (Soma Santoki), um garoto de 11 anos, é repleta de simbolismo, seguindo a linha característica dos filmes do Studio Ghibli. Ele enfrenta a dolorosa perda da mãe em uma Tóquio arrasada pela Segunda Guerra Mundial. Com o pai se casando novamente com a irmã mais nova de sua falecida esposa, que logo espera um filho, Mahito adota uma postura distante, que aos poucos se desfaz quando ele encontra uma garça mágica. O pássaro se torna seu relutante guia para os mundos contidos em uma torre próxima, erguida por seu tio-avô, que dizem ter enlouquecido antes de desaparecer.
Apesar de o filme levar algum tempo para se desenvolver completamente, é improvável que muitos se incomodem com suas falhas, incluindo os símbolos que não se integram completamente à narrativa, talvez por conta de nossa falta de letramento na cultura japonesa.
À medida que Mahito parte em busca de suas figuras maternas, ele se depara com criaturas tão ameaçadoras quanto adoráveis, além de companheiros de viagem que guardam a chave do passado e do futuro, todos agindo como reflexos do nosso próprio mundo. Apesar de o filme levar algum tempo para se desenvolver completamente, é improvável que muitos se incomodem com suas falhas, incluindo os símbolos que não se integram completamente à narrativa, talvez por conta de nossa falta de letramento na cultura japonesa.
‘O Menino e a Garça’: reverência
Hayao Miyazaki desfruta de uma reverência que talvez só Steven Spielberg poderia igualar. Ambos construíram suas carreiras em torno da criação de mundos deslumbrantes que são verdadeiros festivais visuais para os espectadores, com doses suficientes de perigo para satisfazer as crianças e fazer os adultos se sentirem como crianças novamente.
Há uma sensação de segurança em saber que as crianças que assistem aos seus filmes embarcarão em jornadas que se tornam edificantes pela descoberta de que a família é tudo e a única força capaz de nos sustentar em um mundo onde a crueldade pode parecer mais inevitável do que a magia.
O Menino e a Garça é uma complexa alegoria sobre a perda materna, e a elaboração do luto. Assim como Os Fabelmans, de Spielberg, o filme de Miyazaki é um conto semi-autobiográfico, mas repleto de magia, que transforma nossos sonhos e pesadelos coletivos em algo precioso, oferecendo uma visão inspiradora de como um dos grandes artistas modernos enfrenta seu próprio fim iminente.
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