O documentário brasileiro Meu nome é Daniel foi o filme de encerramento do 7° Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, no que foi também sua exibição de estreia. Daniel de Castro Gonçalves é o protagonista e o diretor do longa, o primeiro de sua carreira, que já conta com outros curta-metragens.
Em um exemplo raro, Daniel decide ele mesmo filmar a história de sua doença, podendo assim driblar todos os clichês pelos quais pessoas com alguma deficiência física costumam ser retratadas. Não uma grande história de superação ou um apelo dramático. O que o cineasta faz é narrar sua vida que – ah!, é mesmo – acontece de ter um obstáculo a mais que outras.
Ele escolhe usar como mote da produção do documentário o fato de que sua paralisia nunca foi diagnosticada. Não se sabe se é um problema neurológico, genético ou uma terceira opção ainda não explorada. Mas, assim como foi para a família do próprio Daniel, o “por quê?” logo se torna irrelevante para o público. É uma curiosidade, mas não é o que nos prende.
As imagens antigas — com pouca qualidade, mas recheadas de nostalgia — conseguem atingir todos aqueles que têm o mínimo de lembrança dessa época ou experiências familiares parecidas.
A simplicidade absoluta do formato torna o filme acessível e cativante para qualquer audiência. São filmagens caseiras feitas durante os anos 80 e 90 (na Super 8 do tio e na câmera de VHS do pai) misturadas com as atuais, que o próprio grava e que retratam sua rotina, como a mãe o acompanhando em médicos e seu amor pela escalada.
No entanto, a força está no passado. As imagens antigas — com pouca qualidade, mas recheadas de nostalgia — conseguem atingir todos aqueles que têm o mínimo de lembrança dessa época ou experiências familiares parecidas. Claro, ele fala de suas dificuldades ao crescer, mas sempre de uma maneira natural. Sem vitimismo, mas também sem fazer de si um herói.
Acompanhamos seu desenvolvimento atrasado em relação a outras crianças, assim como sua infância e adolescência, sempre de um ponto de vista otimista e acompanhado de amigos e família. Inclusive, em uma conversa com a mãe, os dois notam como também são afortunados, pois a condição financeira da família permitiu que ele pudesse viver uma vida adaptada a ele.
Abro aqui um parênteses para apontar que achei estranho como sua irmã é citada na infância, mas nunca aparece ou é mencionada nos dias atuais. Pode ser irrelevante, ou pode ter uma história maior por trás… acho que nunca saberemos. Ou talvez eu esteja querendo “novelizar” uma história tão banal quanto poderia ser.
Ainda que a vida de Daniel tenha a peculiaridade de sua doença não diagnosticada, o que fica é a impressão de que qualquer um, com registros em vídeo suficientes e um talento para construir uma narrativa, pode transformar sua história em cinema.
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