David Wosniak (Patrick Huard) é um sujeito bastante humano, considerando o duplo sentido que essa afirmação carrega. É humano tanto no sentido de alguém devotado a ajudar os outros de forma espontânea, quanto de alguém que, segundo seus mais próximos, falha em muitos, muitos aspectos. Equilibrista entre defeitos e virtudes, ele descobre que a namorada está grávida. Enquanto ainda assimila o impacto da notícia, recebe outra, um “pouco” maior, referente a um capítulo especial de seu passado.
Quando estava com cerca de 20 anos, David doou material genético para uma clínica de fertilização. Mais especificamente, seiscentas e noventa e três vezes. O resultado disso? Quinhentos e trinta e três filhos foram gerados. Desses 533, nada mais nada menos que 142 (agora na faixa dos 18 anos) movem um processo judicial para tentar saber quem, afinal, é o pai biológico.
Essa é a sinopse do excelente Meus 533 Filhos (2011), dirigido pelo canadense Ken Scott. O título original, Starbuck, refere-se a um touro canadense que deixou grande descendência por meio da inseminação artificial. Essa informação complementa uma das provocações do filme, que leva o espectador a colocar diante de si a diferença entre ser efetivamente pai e ser apenas um genitor, alguém que lança pessoas no mundo de forma descompromissada. A análise dessa diferenciação acaba representando, enfim, aquilo que marca o processo de amadurecimento que o próprio David atravessa quando parte em busca dos filhos gerados por meio da doação à clínica. Ao fazer isso, ele se prepara para ter seu primeiro filho gerado de modo convencional.
Patrick Huard está perfeito no papel do protagonista, construído com apuro, sem excessos, sem ausência de detalhes, das expressões faciais à postura corporal, passando pela camiseta de super-herói que ele usa quando faz algumas das visitas a seus filhos.
Patrick Huard está perfeito no papel do protagonista, construído com apuro, sem excessos, sem ausência de detalhes, das expressões faciais à postura corporal, passando pelo figurino. É digna de atenção especial a camiseta de super-herói que ele usa quando faz algumas das visitas a seus filhos sem que eles saibam que ele é o genitor. David revela-se um anjo da guarda, uma espécie de herói mesmo, enquanto oculta sua identidade de pai biológico.
Hollywood refez este belo trabalho sob o título De Repente Pai, contando com Vince Vaughn no papel de David. É incrível como, mesmo tendo sido contratado o mesmo diretor e utilizado o mesmo roteiro (com alterações quase que imperceptíveis), o material original é infinitamente superior à refilmagem. Se você chegar à conclusão de que assistirá a apenas um dos dois filmes, mas cair na dúvida sobre o qual priorizar, não pense duas vezes: fique, tranquilamente, com a versão canadense.
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