Quem é fã da faceta experimental da filmografia do cineasta norte-americano Gus Van Sant deve se preparar para assistir a um trabalho mais convencional de direção em Milk – A Voz da Igualdade (2009). O autor de títulos cult como Drugstore Cowboy, Garotos de Programa e Elefante adota um tom engajado, abertamente político, para contar a história de Harvey Milk, primeiro homossexual assumido a ocupar um cargo público nos Estados Unidos. E acerta em cheio.
Embora haja em Milk traços do cinema autoral de Van Sant, sobretudo na construção estética das imagens e na abordagem do universo de um personagem marginal, em menos de meia hora de projeção fica clara a real intenção do diretor. Ele quer, mais do que exibir seus talentos e motivações criativas, que o espectador capte a enorme importância do personagem-título, figura fundamental na história da luta pelos direitos humanos e das minorias.
Para o sucesso dessa missão, além do roteiro, premiado com o Oscar, a brilhante atuação de Sean Penn como Milk faz toda a diferença. Penn não se limita a ficar “parecido” com Milk, judeu nova-iorquino que, aos 40 anos, saiu do armário, mudou-se para São Francisco e lá, aos poucos, engajou-se no movimento gay, defendendo os direitos dos homossexuais. Ele se transforma no personagem. Por sua atuação, venceu seu segundo Oscar – o primeiro foi pelo thriller Sobre Meninos e Lobos (2003), de Clint Eastwood.
Para o sucesso dessa missão, além do roteiro, premiado com o Oscar, a brilhante atuação de Sean Penn como Milk faz toda a diferença.
Narrado como um longo flashback, pautado por um depoimento que Milk deixou gravado caso fosse morto, o filme de Van Sant acompanha essa trajetória, buscando conciliar aspectos da vida pública do personagem e de sua intimidade.
O que prevalece, no entanto, é a sua entrega à militância, que o levou a ser eleito ao cargo de subprefeito (supervisor distrital) de São Francisco, encarregado da região da Castro Street, tradicional vizinhança gay da cidade californiana. Mas esse empenho também lhe custou um relacionamento com Scott Smith (James Franco), seu companheiro por vários anos, que se cansou de dividir a atenção de Harvey com a política.
Milk foi morto a tiros, em novembro de 1978, por Dan White (o ótimo Josh Brolin, indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante), outro subprefeito. A tese defendida pelo filme de Van Sant para explicar o crime é polêmica, porém plausível. Conservador e inseguro, White teria, segundo a visão do roteiro, se sentido ameaçado tanto pela habilidade de negociador de Milk quanto pela forma franca e sem rodeios com que ele lidava com sua sexualidade. Cabe ao público, contudo, formular seu veredito.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.