Lançado nos derradeiros dias de 2018, a comédia Minha Vida em Marte, continuação de Os Homens São de Marte e É pra Lá Que Eu Vou (2014), levou em torno de 5,4 milhões de espectadores às salas de exibição, tornando-se a décima maior bilheteria do cinema brasileiro da história. O longa-metragem, baseado na peça teatral escrita e estrelada por sua autora, a atriz e escritora fluminense Monica Martelli, é o que se pode chamar de um fenômeno silencioso, que merece ser analisado mais de perto. Pouco se falou da dimensão desse sucesso todo, é preciso dizer.
O inesperado êxito comercial do filme tem, provavelmente, várias explicações, todas de alguma forma relacionadas à trajetória pessoal e profissional de sua protagonista. Às vésperas de completar 51 anos, Monica Martelli, como ela mesma gosta de dizer, só conseguiu de fato “acontecer” quando tomou as rédeas de sua carreira, de sua narrativa. Jornalista formada, ela tentou por muito tempo, sem grande sucesso, um lugar ao sol no mundo da comédia, com participações sem maior importância em peças, novelas e programas humorísticos, e da música – chegou a formar uma mal-sucedida dupla sertaneja feminina com a também atriz Alexandra Richter.
O sucesso só veio mesmo em 2005 quando decidiu montar, na cara e na coragem, e com seus próprios recursos, Os Homens São de Marte e É pra Lá Que Eu Vou, monólogo assinado e protagonizado por Monica. A peça, baseada em suas aventuras e desventuras amorosas, estreou em um pequeno teatro carioca para cem pessoas e, aos poucos, se transformou em um evento na cena do Rio, com sessões lotadas. O espetáculo, ao mesmo tempo romântico, cômico e autoirônico, acabou chegando ao cinema, sob a direção de Marcus Baldini, e à televisão, em um seriado exibido pelo canal GNT que já conta com três temporadas.
O inesperado êxito comercial de Minha Vida em Marte tem, provavelmente, várias explicações, todas de alguma forma relacionadas à trajetória pessoal e profissional de sua protagonista.
A personagem central tanto das peças quantos filmes e seriados é sempre a mesma: Fernanda, alter ego de Monica, uma mulher madura da Zona Sul do Rio de Janeiro, bonita, carismática, porém com frequência à beira de um ataque de nervos. Vive uma montanha-russa afetiva, num eterno casa e separa, instabilidade que no fundo é a razão de ser da saga transmídia, às vésperas de completar 15 anos.
Monica, uma das apresentadoras do programa Saia Justa, também da GNT, traz muito de sua personalidade à personagem, cuja grande qualidade é, apesar de romântica até a medula, também rir das próprias mazelas, e de forma inteligente, não submissa. No início da trama de Minha Vida em Marte, Fernanda está casada há alguns anos com Tom (Marcos Palmeira), de quem tem uma filha pequena – Monica também é mãe de uma garota na vida real. O relacionamento anda bastante morno e a crise não demora muito a chegar. A protagonista, então, entra em pânico e busca a ajuda de Aníbal, vivido por ninguém menos do que o comediante Paulo Gustavo, também melhor amigo de Monica fora das telas.
Campeão de bilheterias com os dois filmes da franquia Minha Mãe É uma Peça, Paulo é um dos vários coautores do roteiro de Minha Vida em Marte, e sua presença no projeto é estratégica: pode ser um dos fatores, senão a razão principal do sucesso do longa, dirigido por Susana Garcia, irmã de Monica. A cenas de Fernanda e Aníbal aproximam a trama da comédia rasgada, de paladar mais popular, o que explica a presença de ambos em todo material de divulgação. Um jogada de mestre de Monica, mais uma vez.
Mas, e o filme é bom? Para quem já viu Os Homens são de Marte e É pra Lá Que Eu Vou, filme e seriado, não há nada de muito novo e clichês sobre relacionamentos amorosos enfileiram na trama sem muito pudor, o que não chega a ser um problema grave. A única “ousadia” é a opção de focar mais na amizade entre Fernanda e Aníbal, com a protagonista fazendo escada para as tiradas hilariantes do amigo gay. A química entre Monica e Paulo acaba sendo o grande segredo do êxito do longa, que, provavelmente, deverá render mais uma sequência.
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