Molly Bloom era uma promissora esquiadora que, após um acidente acabar com sua carreira, decide tentar a sorte em Los Angeles antes de iniciar a faculdade. Lá, ela acaba conhecendo pessoas influentes e em alguns meses se torna a organizadora de jogos de pôquer clandestinos (e milionários) recheados de homens poderosos. Essa é a premissa de A Grande Jogada (ou Molly’s Game, no original), mas não é no auge que conhecemos a personagem de Jessica Chastain. A trama conta paralelamente a história da subida e o pós-queda. Decadente, ela procura um advogado (interpretado por Idris Elba) para combater o que acredita ser acusações injustas do governo americano, que já havia tirado tudo dela quando seu esquema caiu.
Escrito pelo reconhecido roteirista Aaron Sorkin, baseado na autobiografia escrita pela própria Bloom, esse é o primeiro e único filme também dirigido por ele até então. Isso pode explicar a duração excessiva. Talvez tenha sido difícil para o Sorkin diretor cortar os diálogos tão bem planejados, mas não necessariamente necessários ao desenrolar da trama, do Sorkin roteirista. Seja como for, A Grande Jogada se beneficiaria de alguns cortes no roteiro e mesmo de personagens secundários, que aparecem aos montes, mas raramente são aproveitados de forma menos superficial.
Feita a crítica à prolixidade do autor, nos voltemos ao seu brilhantismo. Os trabalhos de Sorkin – e, na minha humilde opinião, os melhores são as séries The Newsroom e West Wing – são marcados por diálogos extremamente rápidos, inteligentes e afiados. No caso dos filmes, muitas vezes temos narrações em primeira pessoa que soam como digressões dos protagonistas, algo que se veria em uma obra literária. Molly’s Game se utiliza bastante dessa ferramenta, sempre se apoiando no fato de que o livro em que foi baseado existe na própria ficção que o adapta. É uma muleta, mas funciona.
A Grande Jogada não é o melhor que já vimos e provavelmente que ainda veremos de Sorkin, que, espero, volte à cadeira de direção para adaptar um material original seu.
Michael Cera faz seu melhor papel de… Michael Cera. Dentre suas muitas interpretações de personagens que parecem ser um alter ego dele mesmo, essa é a melhor, porque ele encarna o típico rapaz mimado que acha que está sendo “punido com a friendzone” quando, na verdade, só não é um cara tão legal quanto acredita.
Kevin Costner como o pai de Molly faz o contraponto emocional da protagonista que, para mim, não funcionou. “Daddy issues”, sério? O filme enfraquece quando tenta humanizar a personagem usando sua relação com a família. Outras vertentes, como o problema com drogas e o medo ao ver o tipo de pessoas que estava atraindo, fazem o trabalho muito melhor. Felizmente, Jessica Chastain acerta o tom em todas essas situações.
Faz todo sentido que Sorkin tenha decidido adaptar o livro de Bloom (ou aceitado o convite, se foi esse o caso). O projeto tem dois temas recorrentes na filmografia de Sorkin: esportes (sim, o pôquer é um esporte) e histórias reais, assim como aconteceu em O Homem que Mudou o Jogo.
A Grande Jogada não é o melhor que já vimos e provavelmente que ainda veremos de Sorkin, que, espero, volte à cadeira de direção para adaptar um material original seu. Porém, isso não quer dizer que não seja um grande filme, talvez mais apreciado por aqueles que se interessam pelo mundo do pôquer amador e competitivo. A linguagem pode ficar cansativa para os leigos, ainda que o filme procure ser bastante didático. Felizmente, sou uma dessas apreciadoras do jogo (“roleta é um jogo de azar, o pôquer é um jogo de habilidade”, como lembra a protagonista), então o saldo foi positivo.
Dica de consumo: Não, não tem na Netflix. Mas A Grande Jogada (Molly’s Game) está disponível no catálogo da Amazon Prime Video e também pode ser alugada na Play Store, Telecine Play e plataformas similares.
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