É bastante comum encontrar pessoas que olham com desconfiança para dramas. Há um número considerável de espectadores que procuram a sétima arte não para serem provocados a chorar, mas justamente, para serem motivados ao oposto disso. No entanto, se quem está lendo este texto reconhece que o drama está entre os seus gêneros preferidos, então o filme Mommy (2014), do diretor canadense Xavier Dolan, tem tudo para ser uma indicação que não desapontará.
A trama mostra que o adolescente Steve, interpretado por Antoine Olivier Pilon, sempre foi de difícil comportamento. Logo após a morte do pai, porém, o quadro piorou consideravelmente e ele acabou sendo enviado a um reformatório pela mãe Diane, vivida por Anne Dorval. O filme todo mostra o relacionamento tenso (e põe tenso nisso!) entre ambos. A história ganha complementações aqui e ali com a inserção de outros dois coadjuvantes: os vizinhos Kyla (Suzanne Clément) e Paul (Patrick Huard, do também canadense e excelente Meus 533 Filhos).
Os caminhos tortuosos dos protagonistas demonstram o quanto mãe e filho, apesar de toda a carga de enfrentamento e conflito, precisam um do outro: ele, para investir em uma recuperação; ela, para dar sentido à própria vida.
O que se vê é uma espécie de relação simbiótica entre Steve e Diane. Os caminhos tortuosos dos protagonistas demonstram o quanto mãe e filho, apesar de toda a carga de enfrentamento e conflito, precisam um do outro: ele, para investir em uma recuperação; ela, para dar sentido à própria vida. O desenrolar dessa história na tela, que trabalha o modo como Steve e Diane complementam-se, tende a ter um efeito hipnótico no espectador.
Os atores investem em interpretações viscerais (sobretudo a dupla de protagonistas, pela natural exigência de seus papéis). A trilha sonora pop agradável inclui canções como “Born to Die”, interpretada por Lana Del Rey, e “White Flag”, na voz de Dido. O mergulho do elenco em seus papéis e a lista de músicas escolhidas para embalar as cenas concedem um toque a mais de qualidade nessa obra que, inclusive, ousa na forma. O formato de tela adotado pelo diretor deixa o enquadramento quase que totalmente quadrado, passando a permanente ideia de opressão, sufocamento. Somente em momentos importantes e justificados da trama é que esse formato muda para o convencional.
Mommy, assim, revela-se um exercício no qual forma e conteúdo dão-se as mãos harmonicamente para conduzir o espectador a uma viagem bastante densa, é verdade, mas longe de ser vazia ou tediosa. Assim como no memorável Meus 533 Filhos, em Mommy o cinema canadense demonstra rara sensibilidade para expor a condição humana sem cair na artificialidade.
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