Anna Fox, protagonista de A Mulher na Janela, thriller do cineasta britânico Joe Wright (de Desejo e Reparação), baseado no romance homônimo do americano A. J. Finn, é fascinante. Potencialmente. Ela é uma psicóloga nas casa dos 40 anos, que sofre de agorafobia: não consegue sair de sua casa, um imóvel de vários andares em Manhattan, na cidade de Nova York, porque o mundo exterior lhe é insuportável. Por conta desse distúrbio, não vive mais com seu marido e filha, com quem só fala por telefone. A pessoa que mais vê, além do músico que aluga o subsolo de seu imóvel, é o psiquiatra que dela trata.
Como Wright é um diretor habilidoso, com bastante experiência em adaptações literárias, e a escolhida para interpretar Anna é Amy Adams, seis vezes indicada ao Oscar e uma atriz muito versátil, e capaz de mergulhos dramáticos de fôlego, é inevitável ter grandes espectativas.
O casamento fílmico entre Wright e Adams, contudo, não dá tão certo quanto se esperava. A Mulher na Janela demonstra como um argumento potente, por conta de um roteiro equivocado, pode sair dos trilhos e resultar em um verdadeiro desastre.
O filme, produção da Netflix, começa bem. Anna passa seus dias, na tentativa de conviver com sua doença, diante de suas janelas. Uma é a tela de seu televisor, onde assiste a clássicos antigos, filmes que ela coleciona. A outra dá para o mundo externo que tanto teme. Como o protagonista de perna quebrada vivido por James Stewart em Janela Indiscreta, uma das obras-primas de Alfred Hitchcock, a personagem investiga a vizinhança, seus movimentos. comportamentos. Não deixa de ser uma espectadora, também.
Como o protagonista de perna quebrada vivido por James Stewart em Janela Indiscreta, uma das obras-primas de Alfred Hitchcock, a personagem investiga a vizinhança, seus movimentos. comportamentos.
A rotina da rua se altera quando chega uma nova família à casa que fica em frente à sua. São os Russells, vindos de Boston, casal com um filho adolescente, pelo que Anna percebe. E é importante dizer aqui que vemos o mundo ao redor dela através de seus olhos, que podem ou não enxergar a realidade de forma distorcida. Esse é o aspecto mais interessante da trama.
Embora não saia de casa para se proteger de algo que não entendemos muito bem o que é, o mundo exterior se encarrega de invadir a zona de proteção da protagonista: Jane Russell (a grande Julianne Moore) bate à sua porta e entra em sua casa de forma quase invasiva. Também aparece seu filho, o visivelmente instável Ethan (Fred Echinger), a quem Anna empresta filmes. Essa aproximação, embora a assuste, parece ser algo bom, um sinal de que talvez sua vida esteja retornando a algum tipo de normalidade.
Essa percepção, todavia, revela ser errônea. Anna vê, através da janela, Alistair (Gary Oldman) discutindo violentamente com o filho e Jane e, por fim, esfaquear Jane. Aterrorizada, ela chama a polícia, que vem prontamente, mas nada consegue provar do que ela diz ter testemunhado. Tudo pode ser sido um delírio seu, provocado por seus medicamentos. A mulher que a visitou pode nunca ter existido, já que a esposa de Alistair e mãe de Ethan pode ser outra pessoa, viivida por Jennifer Jason Leigh. Anna, daí, se sente desafiada a provar que não está delirando.
A narrativa de A Mulher na Janela se desenvolve bem, de forma envolvente, até o momento em que o roteiro se sente na obrigação de tudo solucionar, de redimir completamente Anna e atestar sua sanidade. As reviravoltas, embora sejam esperadas nesse tipo de filme, em vez de impulsionar a trama, a tornam inverossímeis e, por fim, ridículas. Amy Adams e o resto do elenco, com grandes nomes, tornam-se reféns de uma história muito mal amarrada e, por isso, ficam à deriva, desnorteados em cenas sem muito sentido. Uma pena!
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