Que Quentin Tarantino é um nome que entrou para a história do cinema não se discute. Já virou até chavão. É um cineasta aficionado por filmes de faroeste e de artes marciais, lembrado tanto por sua ousadia estética quanto por seu talento e criatividade para arquitetar personagens e diálogos, além da mistura peculiar de violência com humor. Além disso, é detentor de um vasto conhecimento cinematográfico exposto em suas obras que, de tão vasto, chega a desembocar em filmes herméticos para as massas. Ou pelo menos, não passíveis de terem todas as suas referências e camadas adequadamente digeridas, assimiladas.
Pois Quentin Tarantino: Os Oito Primeiros (2019), documentário sobre o diretor e cujo título faz clara referência aos primeiros integrantes de sua filmografia, também pode ser considerado hermético, “fechado”. Mas isso especificamente pelo fato de tender a chamar a atenção apenas dos fãs mais ardorosos e cinéfilos em geral e não do grande público. Trata-se de um filme do gênero em formato bem convencional, que se baseia no esquema entrevistas/reprodução de cenas do filme comentado no momento/ animações envolvendo o diretor/entrevistas/reprodução de cenas do filme comentado no momento/animações envolvendo o diretor e assim sucessivamente, em um círculo vicioso previsível e cansativo.
O melhor no decorrer de Quentin Tarantino: Os Oito Primeiros talvez seja rever algumas cenas marcantes de filmes marcantes
Mesmo os fãs talvez torçam o nariz para o documentário pelo fato de o homenageado não dar nenhuma entrevista. Todas as informações lançadas para o público provêm de terceiros, de pessoas que com ele trabalharam como Christoph Waltz, Samuel L. Jackson, Jamie Foxx, Tim Roth, Diane Kruger, Jennifer Jason Leigh, Eli Roth e Kurt Russell. Em suas participações, esses entrevistados expõem detalhes de produção e convivência que agradam curiosos sobre os bastidores.
O espectador fica sabendo (ou é lembrado) de informações como, por exemplo, que a Miramax foi a única produtora e distribuidora que aceitou concretizar o projeto de Cães de Aluguel (1992), dando início, assim à parceria entre Tarantino e os irmãos Bob Weinstein e Harvey Weinstein.
Harvey Weinstein, inclusive, fecha o documentário. Quando o filme, aparentemente, termina, novas informações surgem na tela, antes efetivamente dos créditos finais. Esse adendo demonstra uma preocupação extrema em desvincular a imagem de Tarantino à de seu antigo amigo após a enxurrada de denúncias de assédio sexual que passaram a surgir contra o grande empresário da indústria cinematográfica.
Com direção de Tara Wood, o documentário também conta como Cães de Aluguel fez o cineasta “nascer” como tal no Festival de Cannes, com pessoas gritando o nome “Tarantino!” na rua após uma sessão especial de exibição do filme. “Ele foi para Cannes como um cineasta independente e voltou um astro”, resume o ator, diretor e roteirista Scott Spiegel. O filme, traz, ainda, entre tantos episódios da vida do cineasta, o acidente sofrido por Uma Thurman durante as gravações de Kill Bill, em 2003.
O melhor no decorrer de Quentin Tarantino: Os Oito Primeiros talvez seja rever algumas cenas marcantes de filmes marcantes como Pulp Fiction: Tempo de Violência (1994), Kill Bill (2003), Bastardos Inglórios (2009) e Django Livre (2012). No mais, é um filme mediano que desliza para o tédio e, claro, convida o espectador a fazer o mesmo. É mais agradável ver um filme de Tarantino do que um filme sobre Tarantino. Pelo menos, é a observação que cabe neste caso.
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