Ela foi a primeira mulher a conquistar um Nobel. Em 1903, levou o prêmio de Física por suas pesquisas no campo da radioatividade. Em 1911, destacou-se ao tornar-se a primeira pessoa contemplada com dois Nobel em categorias distintas. Na ocasião, foi laureada com o prêmio de Química por ter descoberto os elementos rádio e polônio. Vivendo em uma época fortemente machista, ela teve que lutar muito para superar a invisibilidade na qual era constantemente forçada a mergulhar. Polonesa que se mudou para Paris para matricular-se na Sorbonne e avançar em sua carreira científica, sofreu xenofobia.
Ela é Marie Curie e essas são apenas algumas informações de sua vasta biografia, que o filme Radioactive (2019) tenta condensar em pouco mais de uma hora e meia de duração. A produção, dirigida por Marjane Satrapi, dialoga com A Espiã Vermelha (2018), que conta a história de Joan Stanley, britânica conhecida como “a vovó espiã” por ter passado segredos da bomba atômica para a Rússia.
O roteiro de Radioactive, escrito por Jack Thorne e baseado no livro Radioactive: Marie & Pierre Curie: A Tale of Love and Fallout, de Lauren Redniss, opta por iniciar o relato em 1934, ano da morte da protagonista. Logo após, lança o espectador para a Paris de 1893, ano em que Marie Curie (Rosamund Pike) conhece Pierre Curie (Sam Riley), que se tornaria seu marido e grande companheiro nos experimentos científicos.
A partir de então, é possível perceber que a trama investe pesado em flashbacks e em flashforwards, ou seja, em regressões e avanços no tempo, respectivamente. Essa estratégia serve tanto para contar o maior número possível de fatos da vida profissional e pessoal da protagonista quanto para contextualizar as consequências e os efeitos das descobertas científicas de Curie. O relato desembarca, por exemplo, em Hiroshima, em 1945; e em Chernobyl, em 1986.
Em tempos de intensa e teimosa negação da ciência, xenofobia persistente e machismo estrutural, Radioactive demonstra o impacto de sua atualidade. Mesmo tendo como protagonista uma mulher que se destacou no início do século passado.
Uma das cenas acontece em um hospital em Cleveland, nos Estados Unidos, em 1957. Nesse último recorte de tempo, uma criança luta contra o câncer fazendo uso da radioterapia. São opções do roteiro para mostrar que as descobertas de Marie e Pierre Curie foram usadas pela humanidade no decorrer da História tanto para o bem quanto para o mal.
Os flashbacks e flashforwards são inseridos em um ritmo de narrativa bastante ágil. Alguns takes duram dois segundos, por exemplo. Não há tempo a perder. Essa escolha narrativa “em ritmo de videoclipe” em alguns momentos está longe de desagradar: tem o mérito de expor o maior número possível de informações sobre a personagem principal.
O que fica, entre tantas leituras, é o retrato de uma mulher bastante forte, que sabia muito bem onde estava e onde queria chegar. Em um dos momentos de demonstração de força desta mulher brilhante está a cena na qual ela fala para a filha Irène (Anya Taylor-Joy) que sofreu muito mais pela falta de verba para levar adiante a sua ciência do que pelo fato de ser mulher.
Em tempos de intensa e teimosa negação da ciência, xenofobia persistente e machismo estrutural, Radioactive demonstra o impacto de sua atualidade. Mesmo tendo como protagonista uma mulher que se destacou no início do século passado.
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