O longa Rock Dog – No faro do sucesso tinha tudo para ser mais um filme genérico infantil de animação. A história do cão mastim tibetano de nome Bodi que, para desgosto de seu pai, não quer ser mais um guarda, e sim um astro do rock, é levada do início ao fim seguindo as fórmulas padrões de roteiro já estabelecidas. O que faz o filme de Ash Brannon (co-diretor de Toy Story 2) um pouco diferente das obras irmãs, é a sua beleza plástica e a aposta na afetividade.
O longa se passa no Tibet, ao que parece, durante a década de 1980 (vide as fitas cassete e telefones orelhões). Seus personagens são todos animais antropomorfizados. Tem cães, gatos, ovelhas e lobos. Os lobos são os antagonistas que querem tomar para si a montanha nevada, onde mora Bodi e seu pai, um mastim sisudo. Ele é o cão de guarda da montanha que num passado distante havia expulsado os lobos. É aí que começa o filme, com um flashback desenhado lindamente, com referências estéticas próximas à Fantasia, clássico absoluto de Walt Disney. Essa antiga luta contra os lobos deixou marcas profundas na comunidade, que com medo de um novo ataque, vive diariamente em atenção máxima, muito embora anos depois nada de mau tenha voltado a acontecer. Para se viver nesse estado de atenção para a guerra, toda a diversão foi proibida, incluindo a música. Já Bodi e as outras crianças acham os treinamentos e os afazeres militares sempre muito enfadonhos. Mas um dia, um avião deixa cair por acidente parte de sua carga e nela havia um rádio. Bodi fica encantado com as músicas que ouve e decide seguir caminho diferente do planejado para ele.
A história é para lá de clássica (ou batida). O jovem deixa sua cidade em busca do sonho contra tudo e todos. Vai procurar a sorte na metrópole e tentar conhecer a mega estrela Angus Scattergood, um gato pernóstico em atual crise criativa.
A modelagem em 3D dos personagens e cenários não traz novidades para o padrão das animações contemporâneas. Mas Rock Dog ousa em muito na atmosfera, nas cores e nas luzes diurnas e noturnas. Em outras palavras, a fotografia é surpreendente. Possivelmente, é a presença do estúdio Huayi Tencent que imprimiu as novas cores, já que se trata de uma co-produção entre Estados Unidos e China.
É um típico filme de superação que vai levar aquele ensinamento clichê: faça o que você quer da sua vida e tudo vai dar certo.
A música é, claro, o motor chefe. Há composições originais, num rock melódico açucarado que não faz mal a ninguém. Mas há também coisas surpreendentes para uma animação infantil como Beck, Foo Fighters e Radiohead.
A música também ajuda seus personagens a resolverem seus próprios dilemas e conflitos. Enfim, é um típico filme de superação que vai levar aquele ensinamento clichê: faça o que você quer da sua vida e tudo vai dar certo. É mais um tijolo construindo esse nosso mito contemporâneo do sucesso pelo esforço e mérito. Tudo embalado em sentimentos como afeto e perdão.
Provavelmente as crianças vão gostar. Tem uma narrativa ágil e com algumas boas piadas visuais. Os pais talvez não gostem tanto. Diferentemente dos filmes dos estúdios Pixar (Toy Story, Monstros S.A., Procurando Nemo, entre muitos outros), a comunicação com os adultos não é priorizada. De qualquer forma, o enredo e sua condução é desenvolvido de forma simples, sem grandes danos. Assim não chateia ninguém.
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