Se o cinema documental é a grande arte do real, então o É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários é o seu grande festival. Em sua edição de 2025, sua trigésima (consecutiva), o mais prestigiado evento dedicado ao gênero na América Latina retorna com uma programação de fôlego (ao todo, são 85 produções de 30 países), prometendo debates acalorados e a exibição de algumas das obras mais instigantes do cinema contemporâneo.
Com uma programação (gratuita) que transita entre a coragem investigativa e a pura poesia cinematográfica, esta edição reforça que, quando bem conduzido, o documentário pode ser tão eletrizante quanto a ficção mais audaciosa. Diante de um mundo saturado por desinformação e narrativas superficiais, o É Tudo Verdade continua a servir como um baluarte para o jornalismo fílmico e para o olhar perspicaz dos cineastas que se debruçam sobre o real.
“O fato deste festival alcançar neste ano sua 30ª edição confirma, antes de tudo, nossa confiança inicial: o documentário estava a exigir uma janela anual específica no país que propiciasse o acesso do público das salas à excelência e à originalidade da produção não-ficcional brasileira e internacional”, avalia Amir Labaki, diretor-fundador do evento.
Edição 2025
O festival deste ano apresenta uma série de títulos que capturam as tensões políticas do presente, além de obras que se propõem a uma reflexão mais subjetiva e experimental sobre a condição humana. E, como de praxe, há também espaço para retrospectivas de cineastas que moldaram a história do documentário, garantindo que o diálogo entre passado e presente siga pulsante.
Entre os destaques da competição, chamam atenção títulos que abordam temas urgentes com um rigor narrativo e estético de tirar o fôlego. Culpar, do suíço Christian Frei, indicado ao Oscar por Fotógrafo de Guerra (2001), acompanha três cientistas durante a pandemia de Covid-19, em uma batalha contra o vírus, a desinformação e teorias da conspiração – muitas delas propagandas por políticos. Quem também estará nesta edição é o cubano Miguel Coyula (de Memorias del desarrollo, 2010) e seu Crônicas do Absurdo, que trata as contradições da dinâmica social e política de Cuba a partir de gravações de áudio clandestinas, captadas por celulares escondidos.
O cinema de observação segue forte, mas também se fazem presentes obras de tom ensaístico e propostas híbridas, demonstrando que as fronteiras entre ficção e documentário são cada vez mais fluidas.
O cinema de observação segue forte, mas também se fazem presentes obras de tom ensaístico e propostas híbridas, demonstrando que as fronteiras entre ficção e documentário são cada vez mais fluidas. Essa fusão entre real e imaginário, tão cara ao cinema contemporâneo, ganha aqui uma plataforma vibrante e desafiadora, permitindo que diretores experimentem novas linguagens e expandam as possibilidades do gênero. Obras como da argentina Malen Otaño (Miren Felder) e dos estadunidenses Jay Rosenvlatt e Stephanie Rapp (Batida do Coração) são bons exemplos dessa hibridez.
Outro ponto que vale ser destacado nesta edição do É Tudo Verdade é a inclusão de obras que exploram o impacto da tecnologia na nossa percepção da realidade. Documentários que abordam desde a inteligência artificial até a manipulação de imagens e deepfakes oferecem uma reflexão profunda sobre como o audiovisual pode ser uma ferramenta tanto de revelação quanto de distorção dos fatos. Nesse sentido, o festival se alinha às discussões mais contemporâneas sobre a era da pós-verdade e o papel da mídia no século XXI.
É Tudo Verdade para além dos filmes
Além das exibições, o festival promove uma ampla gama de atividades paralelas. Debates com diretores e especialistas ampliam as reflexões propostas pelos filmes, enquanto as masterclasses são uma oportunidade única para compreender os bastidores da criação documental (este ano, em parceria com a Spcine, Susanna Lira e Luiz Bolognesi foram os escolhidos – dias 6 e 13, respectivamente).
O É Tudo Verdade também contará com uma homenagem especial a Vladimir Carvalho, um dos grandes nomes do documentário nacional, falecido ano passado, cuja obra será revisitada na retrospectiva brasileira e debatida em mesa na 22ª Conferência Internacional do Documentário. Essa abordagem histórica do festival reforça seu compromisso com a tradição do gênero ao mesmo tempo em que abre espaço para inovações.
Para aqueles que buscam algo além da tela, o É Tudo Verdade 2025 se consolida como um ponto de encontro essencial para cineastas, críticos e espectadores apaixonados pelo gênero. Os encontros promovidos pelo festival não apenas aprofundam a discussão sobre os filmes exibidos, mas também fomentam parcerias e colaborações que podem resultar em futuros projetos documentais. O ambiente efervescente do festival reflete a importância do documentário como ferramenta de investigação, denúncia e arte.
SERVIÇO | É Tudo Verdade – Festival Internacional de Documentários
Quando: de 03 a 13 de abril de 2025;
Onde: salas de cinema de São Paulo e Rio de Janeiro – confira programação completa no site oficial;
Quanto: grátis – confira política de retirada de ingressos no site oficial;
Mais informações, lista de filmes, sinopses e horários podem ser conferidos no PDF da programação oficial.
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