O longa-metragem These are the Rules (Ognjen Svilicic), que compõe a mostra Outros Olhares do 4º Olhar de Cinema, é um filme que, em meio às banalidades burocráticas do dia a dia, constitui o inesperado. Em meio à estética da segurança, composta por prédios habitados e ruas vazias, uma família que toma o cuidado em manter a vida caseira em ordem, em que o velho fogão parece (à primeira vista) o maior problema encarado na rotina do lar, o filho desconstrói a falsa ideia de organização de um mundo prestes a desabar. Os prédios evidenciados funcionam como castelos de baralho, dentro da casa percebe-se o movimento cauteloso da família, mantenedora do frágil lar.
Em um filme fácil de ser apreciado, com uma estrutura narrativa tradicional, em um ritmo lento (que pode desagradar alguns espectadores), Ivo e Maja levam uma vida tranquila em um monótono subúrbio de Zagreb, até que em uma noite, o único filho, Tomica, é violentamente atacado por um colega de escola. Assim, os personagens são colocados à prova, a vida segura que a família mantém dentro do apartamento é rompida pelo externo, a estética da segurança já não é garantida.
Os personagens são colocados à prova, a vida segura que a família mantém dentro do apartamento é rompida pelo externo, a estética da segurança já não é garantida.
A burocracia a que os personagens são expostos, nos momentos mais conturbados, não cria tensão a ponto de mudar suas trajetórias, ao contrário, as regras são aceitas e também reproduzidas dentro da casa de Ivo e Maja. Em um mundo de regras, as aparências são predominantes, tornando as relações superficiais. Os pais cuidam do jantar, preocupados que o filho alimente-se, mas não conhecem os gostos e vivências do jovem.
Ao sair da sessão de These are the Rules é inevitável não pensar em nossas relações mediadas por regras, por organizações, mundos construídos para que sejam mantidos em pé a todo custo. Desconstruir os grandes castelos de cartas das metrópoles, que escondem seus defeitos edificados, torna-se necessário, é preciso olhar e se envolver com aqueles que estão próximos, mas separados pela organização de uma sociedade que valoriza a materialidade acima dos afetos.
Ao fim da sessão a família não é a mesma, o fogão será trocado e o jantar está sendo preparado. A sociedade contemporânea tem conflitos internos, mas as aparências são mantidas, pelos adultos responsáveis por guardar os problemas em gavetas bem organizadas.
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