Existe um cinema brasileiro contemporâneo, à margem do chamado grande mercado, e, portanto, quase ausente das redes de multiplexes, que tem muito a dizer sobre quem somos. Apesar de ainda ser muito pouco visto. Esse é o caso do intrigante Trabalhar Cansa, selecionado para a mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes de 2011 e um dos títulos fundadores de uma nova vertente do fantástico e do terror na produção nacional.
A trama do longa de Juliana Rojas e Marco Dutra (a mesma dupla diretores do ótimo Boas Maneiras, de 2017) acompanha o cotidiano de Helena (Helena Albergaria), dona de casa que decide investir em um mercadinho de bairro. Para ganhar algum tempo livre, ela contrata Paula (Naloana Lima), empregada que vai ajudá-la com a casa e cuidando de sua filha, Vanessa (Marina Flores). O problema é que a oportunidade aparece bem na hora que seu marido, Otávio (Marat Descartes), é demitido e as contas começam a atrasar.
Trabalhar Cansa é, ao mesmo tempo, um retrato cáustico de um país em crise, da classe média que tenta manter a cabeça fora d’água, e uma fábula urbana muito brasileira.
No mercadinho, as coisas também começam a degringolar, com problemas que vão de uma infiltração ao surgimento de um ser improvável, talvez um monstro que nunca se mostra completamente, que pode significar o colapso de todas as esperanças dessa família.
Trabalhar Cansa é, ao mesmo tempo, um retrato cáustico de um país em crise, da classe média que tenta manter a cabeça fora d’água, e uma fábula urbana muito brasileira. O interessante é que, a despeito desses subtextos, o filme de Dutra e Rojas não se rende à tentação de se confundir com um estudo sociológico. Prefere, como cabe a um um bom filme, deixar que a história, muito original, fale por si só.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.