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‘Uma Bela Vida’ é meditação derradeira de Costa-Gavras

Aos 92 anos, o mestre grego Costa-Gavras se afasta do cinema político de outrora para refletir, com doçura e sobriedade, sobre a morte e o sentido do fim. Em 'Uma Bela Vida', o diretor transforma o hospital em palco de contemplação filosófica, propondo uma escuta silenciosa diante daquilo que não se pode curar.

porPaulo Camargo
5 de agosto de 2025
em Cinema
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Kad Merad e Denis Podalydès protagonizam a sensível obra de Costa-Gavras. Imagem: KG Productions / Divulgação.

Kad Merad e Denis Podalydès protagonizam a sensível obra de Costa-Gavras. Imagem: KG Productions / Divulgação.

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Não é fortuito que Costa-Gavras, aos 92 anos, escolha como tema de seu mais recente filme aquilo que o tempo insiste em aproximar: a morte. Após uma trajetória marcada por thrillers políticos contundentes como Z (1969) e Desaparecido (1982), o diretor grego naturalizado francês entrega em Uma Bela Vida uma obra íntima, crepuscular e meditativa — não como um testamento, mas como um gesto de escuta e contemplação sobre o que resta quando tudo já parece ter sido dito.

Longe do engajamento ideológico de sua filmografia mais célebre, Costa-Gavras mergulha agora em um território silencioso, mas não menos político: o fim da vida. Ao narrar o encontro entre um médico especializado em cuidados paliativos, Augustin (Kad Merad), e um filósofo, Fabrice (Denis Podalydès), que o acompanha em suas visitas hospitalares, o filme constrói um percurso que é tanto físico quanto ontológico. A travessia pelos corredores de um hospital francês transforma-se em um mapeamento das possibilidades do morrer — e do pensar o morrer — em uma sociedade que insiste em negá-lo.

A estrutura episódica — quase didática, por vezes — organiza o filme como um ensaio audiovisual. Cada paciente visitado, cada conversa sussurrada entre camas e corredores, oferece uma variação sobre a mesma pergunta: como se morre com dignidade em um mundo que valoriza apenas o desempenho, a juventude, a cura? Augustin, inicialmente um médico de visão estritamente clínica, transforma-se a partir de uma experiência marcante no Senegal, percebendo que a lógica da medicina ocidental — centrada na cura como objetivo último — fracassa diante da natureza irremediável da morte. A dor, a espera, o esvaziamento progressivo do corpo, a ausência de sentido: nada disso se resolve com comprimidos ou protocolos.

Fabrice, por sua vez, parece habitar esse espaço como testemunha e, ao mesmo tempo, como símbolo. Um filósofo que caminha entre os moribundos sem oferecer respostas, apenas perguntas. Sua presença, aparentemente inútil, ganha espessura quando compreendemos que sua função é justamente a de suspender o automatismo com que encaramos o fim. Ele observa, ouve, rememora autores franceses — e não tenta explicar. Não é à toa que sua presença, para os pacientes, basta.

Há, sem dúvida, uma idealização nas escolhas formais do filme. A morte aqui é quase sempre mansa, envolta em afeto e compreensão. Pouco se vê da brutalidade real que marca o fim da vida de tantos: a solidão, a desassistência, a violência institucional, o desespero absoluto. Costa-Gavras parece optar deliberadamente por um olhar de reconciliação. Talvez não por ingenuidade, mas por sabedoria: oferecer, no cinema, uma imagem possível — e talvez desejável — da despedida como um processo de elaboração, e não de negação.

Há, sem dúvida, uma idealização nas escolhas formais do filme. A morte aqui é quase sempre mansa, envolta em afeto e compreensão.

A mise-en-scène discreta, com planos longos e diálogos sussurrados, reforça esse tom contemplativo. O hospital, frequentemente retratado no cinema como espaço de horror ou urgência, aqui ganha o caráter de um limbo sereno, onde a vida ainda resiste em detalhes: uma visita familiar, um último desejo, um olhar cúmplice. A câmera de Costa-Gavras parece menos interessada em dramatizar do que em escutar. E esse gesto — o de escutar — talvez seja o mais radical do filme.

Ao final, Uma Bela Vida não propõe respostas, nem elabora uma filosofia de consolo. Mas nos obriga a pensar, como Fabrice, o que resta quando resta apenas o tempo. E, como o próprio título sugere com delicada ironia, talvez a beleza esteja não na vida em si, mas na forma como se a reconhece — mesmo quando ela está prestes a desaparecer.

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Tags: : Uma Bela VidaCinemaCosta-GavrasDenis PodalydèsKad Merad

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