O longa-metragem O Capital (2012), dirigido pelo greco-francês Constantin Costa-Gavras e baseado na novela de mesmo nome escrita pelo francês Stéphane Osmont, não tem os palavrões, as drogas e as relações sexuais de O Lobo de Wall Street. No entanto, o filme vindo da França apresenta um forte aspecto em comum com a quinta parceria entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio: ser um retrato estonteante da ganância, dos jogos de interesses, da forma como relacionamentos são formatados em nome do lucro. É um retrato de cores carregadas, enfim, da relação do ser humano com o dinheiro e o poder.
Gad Elmaleh dá vida ao protagonista Marc Tourneuil, funcionário de um grande banco da Europa. O banco, sugestivamente, é chamado de Phenix, a ave mitológica que renasce das cinzas. Tourneuil é alçado ao posto de presidente da instituição bancária graças a um câncer nos testículos do presidente anterior. A ideia do conselho do banco é mantê-lo no cargo provisoriamente, mas Tourneuil aproveita a oportunidade e, fazendo uso de uma série de estratégias, procura manter-se no comando. Enquanto está à frente do Phenix, ele sofrerá pressões também de um grupo estadunidense liderado por Dittmar, interpretado por Gabriel Byrne, que tem um plano de aquisição da instituição europeia.
O Capital é extremamente oportuno em um mundo pós-crise de 2008, que acompanha o colapso da economia em várias partes do mundo. É um filme que reflete sobre o atual modelo de capitalismo globalizado e da financeirização da economia.
Dentre as cenas emblemáticas está a reunião por videoconferência do presidente com os 100.407 funcionários do banco em 49 países, a primeira desse gênero em toda a história da instituição. Para o espectador, tende ser estimulante acompanhar a diferença gritante na reação dos participantes da reunião após a fala de Tourneuil: de um lado, os altos executivos que acompanham o líder presencialmente; de outro, os funcionários, que são representados apenas como rostos em um grande painel que permite a videoconferência.
Também é instigante notar o porquê da reunião. Outra cena de impacto enfoca um almoço em família, no qual Tourneuil é questionado sobre assuntos como salário exorbitante e influências do modelo de gestão da instituição na vida dos cidadãos.
Cada fotograma de O Capital destila acidez contra o sistema bancário e suas consequências na sociedade. Sem dúvida, é um filme extremamente oportuno em um mundo pós-crise de 2008, que acompanha o colapso da economia em várias partes do mundo. É um filme que reflete sobre o atual modelo de capitalismo globalizado e da financeirização da economia. Um filme que apresenta uma espécie de “Robin Hood às avessas” por ter um protagonista que se orgulha de roubar dos pobres para repassar aos ricos.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.