Em 1979, Ridley Scott lançou um dos mais bem-sucedidos e impressionantes filmes de ficção científica da história do cinema, Alien, o 8º Passageiro. O filme rendeu franquia e de lá para cá foram lançados outros quatro títulos, sendo prometido mais um para 2017. O enorme sucesso da obra espalhou filhos e netos por Hollywood, sendo o último, o recém estreado Vida, de Daniel Espinosa. O filme, aliás, é tão similar ao original da década de 1970 que sofre mais pela comparação do que pelos seus próprios problemas.
Em Vida, uma equipe de astronautas instalados na Estação Espacial Internacional tem a missão de estudar uma amostra vinda do solo marciano. Nela, os pesquisadores encontram uma célula alienígena em aparente estado de hibernação. Ao proporcionarem temperatura e atmosfera adequadas, a célula desperta e passa a se multiplicar. Assim, a ciência é capaz de ostentar ao mundo o primeiro contato com uma forma de vida extraterrestre. Mas claro que tudo dá muito errado, e o que era para ser motivo de comemoração entre os cientistas e a humanidade, torna-se um perigo real e inimaginável. Para quem assistiu Alien, não é difícil de imaginar o que vem pela frente: uma caçada de gato e rato dentro da labiríntica Estação Espacial.
Daniel Espinosa, diretor também de Crimes Ocultos e Protegendo o Inimigo, faz até um trabalho competente enquadrando o longa-metragem no gênero terror espacial. Com cerca de uma hora e quarenta minutos, o espectador terá poucos momentos de respiro, com um enredo de tensão elevada. Há também cenas de ação bem executadas, como a que se dá na abertura do filme, um longo plano-sequência (ação sem cortes) em que somos apresentados a toda a equipe, dentro e fora da estação, enquanto que trabalham no resgate de um módulo espacial desgovernado. Mas nem só de movimentos de câmera arrojados e efeitos especiais vive o cinema.
Além da proximidade exagerada com o Alien, o filme peca na pretensão de tentar ser maior do que é.
Além da proximidade exagerada com o Alien, o filme peca na pretensão de tentar ser maior do que é. O roteiro (Rhett Reese e Paul Wernic) tenta trazer um discurso grandioso sobre a criação e a eliminação da vida, mas esquecendo que esse é um discurso para lá de batido no cinema de ação norte-americano, com uma enorme profusão de personagens que se lançam em missões sem volta para salvar a humanidade.
Em vários momentos, Vida também lembra Gravidade. Mas se lá, Alfonso Cuarón conseguiu fazer de toda a pirotecnia, uma forte alegoria sobre a sobrevivência humana, aqui o resultado é um filme um tanto estéril. Vida não consegue ser maior do que a mera sucessão de acontecimentos.
Embora o elenco não deixe a desejar, a assepsia do roteiro não permite que atores do porte de Jake Gyllenhaal (Animais Noturnos e Zodíaco) se mostrem além da bidimensionalidade de seus personagens. David Jordan (Gyllenhaal) é um membro da equipe espacial que prefere ficar fora da Terra por se sentir deslocado frente a tudo o que foi realizado de pior no planeta. Esse é só um exemplo de como funciona o universo maniqueísta preparado para fomentar esse Vida. Tem ainda o cara que preferiu estar no espaço no lugar de presenciar o nascimento do filho; ou o cientista altamente especializado que é paraplégico e, por isso, sente-se como um passarinho (sic). O modus operandis é sempre binário.
Vida estreia com cara de franquia, assim como atesta seus últimos minutos. Sem sombra de dúvidas, a sequência final é o que há de mais impactante e bem executado no projeto. Mesmo assim, tem aquele cheiro de Alien requentado.
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