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Capão Pecado, da traição à salvação

porGuylherme Custódio
2 de maio de 2016
em À Margem
A A
Ferréz

Ferréz: Obra do romancista da traição é usada para promover a inclusão. Foto: Divulgação.

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Por um livro ninguém passa impune.

Heráclito diz que “não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio”.

Da mesma forma, é inconcebível ler uma obra e continuar com os mesmos pensamentos que antes.

Por isso, reli pela terceira vez Capão Pecado, do escritor paulistano Ferréz.

Foi o primeiro livro que li na vida, com 13 anos.

O método usado na escola pública não me ensinou a gostar de ler.

A obrigatoriedade foi o primeiro passo para o fracasso.

Mesmo em Curitiba, tudo começa pelo Capão Redondo. Foto: Divulgação.
Mesmo em Curitiba, tudo começa pelo Capão Redondo. Foto: Divulgação.

O segundo foi querer me fazer ler algo sem relação alguma com o que eu pensava, fazia ou vivia. Aliás, ninguém dali vivia, já que algumas das obras tinham sido escritas há mais de 100 anos.

Cheio de hormônios, não conseguiria me concentrar naquilo que não queria. Eu queria jogar futebol, pichar e ouvir rap.

Mas, as mudanças que eram prometidas para o ano 2000 vieram para mim por meio da primeira obra de Ferréz, que falava a minha linguagem e me trazia identificação.

Tudo que eu ouvia estava ali escrito, transcrito e fotografado. Era praticamente um rap em prosa.

Sem ser forçado, claro, corri atrás e fui tomado de assalto por aquele livro que tratava de amor e traição.

Mas, com a releitura, percebi que ele não era tão admirável como quando o li pela primeira vez.

Ainda bem.

Em Deus Foi Almoçar, seu último romance, lançado em 2012, Ferréz sai da zona de confronto característica da sua literatura e mostra que, além de ser um “escritor da periferia”, também pode ser visto como um escritor sem rótulos.

O que me fez chegar a ele quando adolescente vejo hoje como um possível demérito. A linguagem do rap incrustada na obra faz com que, por vezes, ela recaia mais para esse lado do que para a própria literatura.

Mas a temática adotada pelo estilo musical, a realidade da periferia, é também um ponto positivo ao fazer com que o ambiente seja o seu principal personagem, determinante para explicar e entender como agem e pensam as pessoas ali retratadas.

Entretanto, mesmo que o cenário seja desumano e, por vezes, obrigue os seus habitantes a ser assim, o texto apresenta também uma saída, vista, sobretudo, no personagem Rael, mostrado como diferente dos demais por se dedicar à leitura, fazer um curso de datilografia e aparecer bebendo poucas vezes e nenhuma usando drogas, o que os demais fazem frequentemente.

Recorrente também é o uso de gírias, o que pode ser apontado como um dos deslizes do autor, visto que em alguns momentos parece haver uma indecisão por manter a oralidade ou buscar não repetir palavras.

Curiosamente, esse tipo de demérito está mais presente nos capítulos iniciais e vão escasseando conforme a progressão da narrativa, que chega em seu ponto alto com a morte do personagem Testa, em que pensamentos, fatos e memórias se mesclam na cabeça do menino que acabara de conhecer a morte e descobrir, da pior maneira possível, a ideia que perpassa toda a obra: na periferia, o respeito sempre tem que prevalecer.

No entanto, mesmo que alguns fatos negativos marquem a publicação, foi ela que possibilitou a Ferréz que tivesse reconhecimento e que chegasse até Deus Foi Almoçar, seu último romance, lançado em 2012, em que sai da zona de confronto característica da sua literatura e mostra que, além de ser um “escritor da periferia”, também pode ser visto como um escritor sem rótulos.

Ferréz evoluiu. Eu evoluí. Graças a ele pude passar de Capão Pecado para Inferno, de Inferno para Cidade de Deus e de lá até poder ler, e sentir vontade de ler, livros de 100 ou mais de 2.000 atrás.

Isso que ocorreu comigo é explicado por Vincent Jouve em A Leitura (Unesp, 2002, P. 107):

“A leitura é portanto, ao mesmo tempo, uma experiência de libertação (‘desengaja-se’ da realidade) e de preenchimento (suscita-se imaginariamente, a partir dos signos do texto, um universo marcado por seu próprio imaginário).

Para retomar os temos de Jauss, a leitura, como experiência estética, é, portanto, sempre ‘tanto libertação de alguma coisa quanto libertação para alguma coisa’. Por um lado, ela desprende o leitor das dificuldades e imposições da vida real; por outro, ao implicá-lo no universo do texto, renova sua percepção para o mundo. ”

Esse ponto de vista da leitura como afirmação, mas também de experimentação, é o método usado pelos criadores do projeto Manobra Literária para apresentar um diálogo entre o skate, já presente na realidade dos atendidos pela iniciativa, e a literatura, ainda vista como algo “chato”.

manobra literária
Equipe e participantes do primeiro evento do Manobra Literária: a leitura e o esporte andam juntos. Foto: Divulgação.

Em seu primeiro evento, realizado no último sábado (30) no Portal do Futuro Regional Cajuru, espaço da prefeitura voltado aos jovens e localizado em um ponto de vulnerabilidade social em Curitiba, a ação de inclusão social contou com diversos parceiros e voluntários para levar às crianças contação de histórias e escolinha de skate e aos adolescentes uma oficina de manutenção do carrinho, bem como o sorteio de livros, peças e boards completos.

Além disso, foi realizada uma roda de leitura que abordou o rap e apresentou o Capão Pecado.

Espero que, ao menos para um deles, a obra tenha tido tanto significado quanto para mim.

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Tags: Capão PecadoFerrézleituraLiteraturaLiteratura MarginalManobra LiteráriaRapskate

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