Em 2004, a editora Ediouro lançou o Almanaque Anos 80, de Luiz André Alzer e Mariana Claudino. O título foi bastante popular, serviu de presente para adolescentes ansiosos por mais informações sobre a época e iniciou uma rápida mania de almanaques sobre assuntos variados. O livro recuperava memórias da década de 1980 e despertava um inevitável sentimento saudosista, recheado de uma mística sobre como aqueles eram bons tempos.
Tenho uma leve impressão que parte do cinema de monstros norte-americano compartilhou desse sentimento nos últimos dez anos. Em 2006, James Gunn (Guardiões da Galáxia, 2014) homenageou o período e o gênero em Seres Rastejantes. No ano seguinte, Rob Zombie refilmou Halloween (2007), clássico de John Carpenter que pariu os slashers daquela década. Em 2008, Steven Spielberg, George Lucas e Harrison Ford colocaram Indiana Jones para enfrentar um mistério alienígena em O Reino da Caveira de Cristal.
Talvez estejamos mantendo esse espírito dos anos oitenta vivo porque queremos, continuamente, reviver uma relação infantil com nossos medos.
Este ano, o fenômeno Stranger Things mostrou que estamos bem longe de encerrar esse culto aos “anos incríveis”. Pelo menos no que diz respeito aos filmes de horror e ficção científica. Somente em 2015, títulos como Como Sobreviver a um Ataque Zumbi (2015), Guerra dos Monstros (2015) e Terror nos Bastidores (2015) estabeleceram vínculos diretos com elementos recorrentes nas narrativas de gênero da época.
Adolescentes protagonistas, sensualidade, humor e efeitos visuais de violência gráfica (que quase flertam com o gore) eram comuns em Deu a Louca nos Monstros (1987), A Hora do Pesadelo (1984) e A Bolha (1988), entre outros. As referências usadas hoje são sempre conscientes e aparecem, não raro, em diálogos ou em pôsteres grudados na parede do quarto dos personagens.
Para mim, o que mais aproxima essas obras é o público alvo. São títulos dirigidos para adultos que buscam reencontrar a juventude na tela. Exatamente o mesmo tipo de imaturidade que estimulou Spielberg e Lucas a redefinirem o gênero a partir de 1975. Essas pessoas levam fantasmas, alienígenas e vampiros como uma coisa séria, mas divertida. Todo monstro de horror e ficção científica age como um vilão de um episódio de Scooby Doo. É ameaçador, mas despretensioso.
Talvez estejamos mantendo vivo esse espírito dos anos oitenta porque queremos, continuamente, reviver uma relação infantil com nossos medos.