Em um dos primeiros episódios de Arquivo X, o Agente Fox Mulder (David Duchovny) explica a sua parceira, Dana Scully (Gillian Anderson), que sobrenatural é apenas uma expressão usada para tratar de fatos que a ciência ainda não deu conta de explicar. “Às vezes é preciso buscar respostas improváveis”, comenta o personagem diversas vezes ao longo da série.
É curioso perceber que, em tempos em que movimentos antivacinas e terraplanistas são levados à sério, a lógica do protagonista do programa criado por Chris Carter é muito mais uma regra do que uma exceção. Estamos vivendo um momento em que teorias mirabolantes e, às vezes, sobrenaturais soam mais plausíveis do que a própria racionalidade em certos grupos sociais.
Ouso arriscar que o fenômeno está indiretamente ligado ao fato de que alimentamos nosso imaginário com a vontade de que muitos fenômenos do cotidiano tenham motivos extraordinários.
Ouso arriscar que o fenômeno está indiretamente ligado ao fato de que alimentamos nosso imaginário com a vontade de que muitos fenômenos do cotidiano tenham motivos extraordinários. Por isso, sempre nos voltamos ao mágico, ao sobrenatural e ao milagroso para casos que teriam outras razões de ser.
Em certos casos, o imaginário do horror age bastante para interferir na nossa percepção da realidade. Algumas semanas atrás, um vídeo feito no Distrito Federal ganhou os noticiários do país após circular como se fosse a prova da existência de um lobisomem que assola a região. O registro, feito à distância, mostrava uma sombra se movimentando em um ambiente escuro e de forma estranha.
O caso, que ficou conhecido como “O Lobisomem de Ceilândia”, não passava de um sujeito que adestrava o próprio cachorro. Na internet, porém, o olhar objetivo sobre o vídeo foi ofuscado pelas potencialidades do que ele poderia mostrar (ainda que nada fosse possível observar na tela).
Esse tipo de ocorrência não é exatamente uma exceção. O Bebê Diabo do Notícias Populares, a presença do Chupacabras nos jornais brasileiros e até mesmo o vídeo da assombração de Araucária servem como exemplos de como nos acostumamos a olhar a realidade pelas lentes da ficção.
Em Arquivo X, Mulder era ridicularizado, excluído e ignorado. Suas teorias absurdas eram um modo de o personagem racionalizar sobre as investigações que conduzia, pensando fora da caixa. Hoje, usamos o mesmo recurso no dia a dia. Estamos sempre dispostos a procurar soluções fascinantes sem se preocupar com as respostas mais lógicas que estão diante dos nossos olhos.
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