Presença certa em parques de diversões itinerantes, os trens fantasmas gradativamente desapareceram nos últimos dez anos. O fenômeno pode ser explicado pelo aspecto ingênuo atribuído à atração para as novas gerações. Ninguém mais tem medo de um boneco mecânico que aparece por trás de uma óbvia cortina.
Para enfrentar o mesmo desafio, casas de sustos dos Estados Unidos passaram por uma profunda modificação de estrutura e direcionamento. Antes voltadas a crianças, com monstros que se inspiravam em filmes de horror, as haunted houses vêm se tornando mais sombrias, sofisticadas e violentas.
No documentário Haunters: The Art Of The Scare (2017), o cineasta Jon Schnitzer investiga esse universo com um olhar bastante interessado nos extremos. Russ McKamey, um de seus personagens, é um ex-militar que criou uma casa assombrada baseada na prática da tortura. Um pouco de seu sadismo pode ser acompanhado em um dos episódios da primeira temporada do seriado Turismo Macabro, da Netflix.
De forma semelhante às casas de susto, os filmes de terror também agem como um elemento catártico em nossos medos.
Para entreter seu público, o sujeito submete seus convidados a humilhações físicas, afogamentos e contatos com animais peçonhentos. É uma figura conhecida da polícia e da imprensa, pois frequentemente é denunciado por vizinhos. O site oficial de sua spooky house tem algumas filmagens dos experimentos (veja aqui, por sua conta e risco).
Schnitzer, que começa o filme abordando o Halloween, associa o surgimento de atrações extremas como as de McKamey a tensões sócio-políticas. Em um dos momentos de Haunters, um especialista da área diz que o maior movimento das noites de terror do parque da Universal Studios havia sido em 2001, em uma reação possivelmente catártica ao 11 de setembro.
De lá para cá, as denúncias de torturas institucionalizadas pelo governo de George W. Bush no Iraque, a crise econômica de 2008 e a ascensão do discurso xenofóbico e violento de Donald Trump parecem ter um vínculo direto com a popularização das casas de sustos extremos no país. A ponto de o mercado ter se profissionalizado. Há casas de sustos em vários pontos do país, muitas delas abertas o ano inteiro e não apenas no Halloween.
É curioso observar como essa mudança no perfil das spooky houses refletem o próprio cinema de horror. As imagens importadas do Iraque são amplamente associadas a ascensão do torture porn, subgênero estruturado a partir de cenas de violência corporal e tortura. Pode ser cedo para afirmar, mas a Era Trump certamente tem seu papel na popularidade do gênero nos últimos três anos.
De forma semelhante às casas de susto, os filmes de terror também agem como um elemento catártico em nossos medos. Precisamos de produções mais extremas para lidar com nossas inseguranças políticas, econômicas e sociais – cada vez mais fortes nos últimos tempos.