Minha filha mais velha, aos dois anos e meio, encantou-se pelas comemorações do Halloween na escola no ano passado. Aproveitei a empolgação para lhe mostrar O Estranho Mundo de Jack (1993), que comprei em DVD alguns meses antes. A música, a ambientação e os horríveis personagens a fascinaram. O reexibimos constantemente desde então.
Fiz outra experiência recentemente com Paranorman (2012), animação em stop motion de bruxas e zumbis do estúdio Laika. Não havia assistido ao filme ainda e parecia uma boa ideia, pois imaginei que havia algum tipo de proximidade com a produção de Tim Burton. Interrompemos a exibição na primeira meia-hora. Era muito assustador para ela.
Essas duas situações me levaram a questionar a legitimidade de minhas ações. Crianças podem ver filmes de horror? Como pai, posso levar minha filha até lugares que a deixem com medo?
A infância é um lugar mais ou menos ideal para os filmes de horror. Eles nunca terão um efeito tão devastador quanto no período em que mantemos boa parte da nossa inocência.
Envolvi-me com o gênero relativamente cedo. Aos oito anos, não perdia nenhum título que, na época, era exibido sem qualquer tipo de censura nas tardes da televisão brasileira (leia mais). A maior parte dos meus amigos não compartilhava meu entusiasmo, por medo. Minha mãe ficava incomodada, mas não podia fazer muita coisa.
Os tempos mudaram. Hoje, o acesso a essas obras não é tão fácil para alguém menor de 12 anos. Especialmente se os pais exercem um rígido controle do que é consumido na internet. Sei que muita gente se incomoda com a ideia de entregar medo aos filhos. Somos programados por instinto para protegê-los e não assustá-los.
É engraçado como concordo com essas colocações, mas também acho que a infância é um lugar mais ou menos ideal para os filmes de horror. Eles nunca terão um efeito tão devastador quanto no período em que mantemos boa parte da nossa inocência. Mal conseguimos perceber se um título é ruim ou não por volta dos oito anos.
Não estou defendendo que devemos criar sessões de O Massacre da Serra Elétrica (1974) ou O Exorcista (1973) para as crianças, mas não vejo porque elas não podem assistir à Poltergeist – O Fenômeno (1982). Há mais fonte de pesadelos em um noticiário que relate a onda de assassinatos no Espírito Santo do que na história da menina sequestrada por espíritos vingativos dirigida por Tobe Hooper.
Um estudo recente que repercutiu na mídia (leia mais) mostra que a maior parte dos filmes de super-herói tem cenas com armas de fogo. Isso significa que a morte está em outros gêneros também – às vezes de forma bem mais violenta do que no horror. O número de mortes em qualquer Capitão América é sempre maior do que em títulos como Goosebumps: Monstros e Arrepios (2013), Convenção das Bruxas (1990) e Gremlins (1984).
O catálogo de obras do gênero é amplo o bastante para que mudemos a pergunta deste título: que tipo de filmes de horror podemos exibir para crianças de qual idade? Pessoalmente, minha primogênita ainda vai demorar bastante para ver os clássicos mais sanguinolentos.
Também devo levar em conta que não posso insistir em produtos que minha filha não quer consumir, como é o caso de Paranorman. Afinal, ela está desenvolvendo os próprios gostos. Se gostar do medo não for sua praia, cabe ao pai respeitar.
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