Poucos filmes foram tão eficientes ao condensar a mitologia dos vampiros quanto o primeiro A Hora do Espanto (1985). Fruto de um período em que o horror era um gênero bastante popular entre adolescentes, a obra de estreia do diretor Tom Holland atualiza a história de Drácula para uma deliciosa e ingênua trama sobre um garoto que descobre que o vizinho devora mulheres no interior de sua morada.
A produção, que completa 30 anos de sua estreia nos cinemas americanos nesta semana, marcou época. Cheia de efeitos visuais práticos incríveis e personagens cativantes, o filme abriu as portas para a chegada de uma porção de títulos de vampiros voltados para adolescentes na segunda metade da década de 1980, como Vamp – A Noite dos Vampiros (1986), Meu Doce Vampiro (1987) e Os Garotos Perdidos (1987).
Charley Brewster (William Ragsdale) é um adolescente obcecado por filmes de monstros, cujo programa favorito é A Hora do Espanto, uma sessão de clássicos do gênero apresentado por Peter Vincent (Roddy McDowall), um ator decadente conhecido pelos papéis similares a Van Helsing, famoso caçador de vampiros criado por Bram Stoker. Como o personagem de James Stewart em Janela Indiscreta (1954), o jovem percebe um comportamento estranho vindo da casa ao lado.
A Hora do Espanto se tornou um marco da década de 1980, a ponto de gerar sequências, refilmagens, histórias em quadrinhos e adaptações para videogames.
Não demora até que Brewster descubra que o vizinho, Jerry Dandrige (Chris Sarandon), tem presas enormes no lugar dos caninos e está de olho em sua namorada, Amy (Amanda Bearse). Desesperado, ele pede ajuda para Vincent, que inicialmente o ridiculariza, mas acaba convencido de que a ameaça é real.
O personagem de McDowall tem os melhores momentos de A Hora do Espanto, como um caçador de vampiros engomado e covarde. O ator é dono de diálogos memoráveis, como quando critica as fórmulas batidas dos filmes de horror da época. “Aparentemente tudo que querem agora é um louco demente com máscara de esqui correndo atrás de virgens”, discursa.
Em uma das cenas mais legais da produção, o aristocrático apresentador de televisão mata um lobisomem (Stephen Geoffreys, embaixo de uma maquiagem pesada) e chora enquanto a criatura agoniza diante de seus olhos sob uma trilha sonora excessivamente dramática. O momento é absolutamente gratuito, quase um ruído dentro da trama, marcada pelo humor. Impossível não lembrar do monólogo de Phoebe Cates sobre o trágico natal de sua personagem em Gremlins (1984).
A química entre Peter Vincent e Charley Brewster é tão boa que foi repetida em A Hora do Espanto – Parte 2 (1988), realizado sem a participação de Holland, que estava ocupado com Brinquedo Assassino (1988). A dupla ainda seria vista em uma série de histórias em quadrinhos, publicadas até o início da década seguinte. A popularidade do título ainda rendeu jogos de videogames e duas refilmagens (a sequência do filme de 2011 é, na verdade, uma nova interpretação do roteiro do original de 1985).
Embora tenham se passado três décadas desde a estreia, o primeiro A Hora do Espanto envelheceu pouco e continua influente. Um documentário sobre os bastidores da produção está programado para ser lançado em 2016. Bancado por financiamento coletivo, You’re So Cool Brewster! The Story of Fright Night deve aprofundar a análise sobre o legado deixado por esse grande clássico dos anos oitenta.