Produzido por meio de uma parceria entre os executivos da Toho e produtor norte-americano Henry G. Saperstein, Frankenstein Contra o Mundo (1965) obteve um relativo sucesso dentro e fora do Japão. O suficiente para animar os produtores a lançar uma sequência com a mesma equipe. Dirigida por Ishirô Honda, A Invasão dos Gargântuas (1966) vai ainda mais longe nos conceitos esquizofrênicos do primeiro filme e entrega um verdadeiro espetáculo kaiju.
O enredo começa quando um barco pesqueiro é atacado por uma criatura humanoide verde, gigante e peluda, que devora a tripulação. Um sobrevivente afirma que o monstro era Frankenstein, que desapareceu alguns anos antes depois de derrotar Baragon. A imprensa vai atrás da equipe de cientistas que acompanhou o caso em busca de respostas.
Aqui o filme começa a ficar estranho. Os pesquisadores do primeiro longa são personagens diferentes na sequência. A atriz Kumi Mizuno, embora reprise o papel de protetora da criatura, interpreta uma cientista com outro nome. Russ Tamblyn, de Twin Peaks, faz as vezes de Nick Adams como o representante ocidental no elenco.
Os ataques continuam e não demora para que apareça um segundo monstro gigante com a mesma aparência, mas marrom. Um deles devorador de homens e o outro protetor. A explicação apresentada pelo roteiro para haver dois deles é que a versão má é um pedaço regenerado do material genético do Frankenstein original. A ideia é ainda mais absurda do que o coração regenerado de um experimento alemão que é afetado pela radiação da bomba nuclear de Hiroshima.
O estilo luta-livre que vinha marcando as fitas da Toho desde o lançamento de ‘King Kong vs. Godzilla’ (1962) atinge seu auge com essa produção.
Honda deixa a metáfora um pouco de lado em A Invasão dos Gargântuas. Se a trama parece absurda, a produção compensa pelos eficientes efeitos especiais das miniaturas – o melhor que a ficção científica japonesa tinha a oferecer na época nas mãos de Eiji Tsuburaya. As duas criaturas trocam socos no meio de uma grande floresta, tentam se derrubar no meio dos prédios de Tóquio e são jogadas de um lado ao outro no meio de um porto marítimo.
O estilo luta-livre que vinha marcando as fitas da Toho desde o lançamento de King Kong vs. Godzilla (1962) atinge seu auge com essa produção. Boa parte da duração do longa-metragem é dedicada ao corpo a corpo dos monstros, que entregam combates destrutivos e bastante dramáticos.
O espetáculo, que pode impressionar mesmo os olhares contemporâneos, foi capaz de suplantar o imaginário e o legado de Frankenstein no Japão. A Invasão dos Gargântuas se tornou um clássico bem mais reconhecível do que Frankenstein Conquista o Mundo. Chegou a ser referenciado como cânone da Era Showa de Godzilla, em Godzilla contra Mechagodzilla (2003). Tornou-se referência para diretores ocidentais como Guillermo del Toro e Quentin Tarantino.
O filme estreou de maneira tímida no Brasil em 1969. Um anúncio publicado no jornal A Tribuna, de São Paulo, no dia 7 de novembro anunciava uma exibição imprópria para 18 anos da obra. Reprisou algumas vezes na televisão nos anos oitenta, mas nunca se tornou particularmente famoso no Brasil, onde o antecessor teve muito mais destaques nos cinemas.