William Castle passou quase duas décadas comandando filmes sem que ninguém soubesse quem ele era. A estreia de Macabre (1958) foi um divisor de águas em sua carreira. Pela primeira vez, ele tinha o nome associado a uma fita de sucesso, alavancada pelo marketing inventivo do cineasta.
Seu terceiro título de horror, Força Diabólica (1959), é a obra pela qual geralmente é mais lembrado. Em muitos aspectos, também é sua narrativa mais estranha aos olhos contemporâneos. Lançada apenas um ano depois de sua estreia no horror, a produção acompanhava a história de um médico, vivido por Vincent Price, que descobre que uma criatura, que parece uma mistura de lacraia com lagosta, vivendo na coluna vertebral de todos os seres humanos.
‘Força Diabólica’ é o filme que melhor representou a vocação de Castle como artista que preza mais pela experiência coletiva do espetáculo do que pela linguagem cinematográfica.
Na maior parte do tempo, o bicho dorme. Só acorda quando passamos por uma situação de susto muito grande. O único jeito de não ser morto por ele é gritar, o que o repele de volta ao sono. Quando uma mulher muda morre de susto, seu monstro se liberta e passa a atacar outras pessoas.
A fita também marca a terceira colaboração de Castle com o roteirista Robb White, que escreveu essa insanidade narrativa de olho em um artifício criado pelo diretor para envolver o público na história. Chamado de Percepto!, o gimmick era um dispositivo grudado nas poltronas do cinema que dava pequenos choques no público.
Essas leves descargas elétricas ocorreriam quando a criatura fugisse para baixo das cadeiras de uma sala de cinema na trama. Nesse momento, a tela ficaria preta e a voz de Vincent Price avisaria a todos para não se preocuparem, pois uma moça que desmaiou passa bem. Para garantir que não seriam atacados pelo monstro de Força Diabólica, o ator pedia ao público que gritasse com força.
O cineasta John Waters, profundo admirador de Castle na infância, relata que as crianças que assistiam ao filme nas matinês tratavam o momento como uma festa. Um momento no qual poderiam expulsar seus demônios e gritar, não por terem medo, mas porque era divertido.
Força Diabólica foi o maior sucesso da carreira de seu diretor. Também foi o título que melhor representou sua vocação de artista que preza mais pela experiência coletiva do espetáculo do que pela linguagem cinematográfica. Nessa época, dizia em entrevistas que sua maior influência era o empresário P. T. Barnum, sujeito que criou o circo moderno, no século XIX, enganando o público com truques baratos, como amarrar a cauda de um peixe em um macaco e dizer que era uma sereia.
O filme foi financiado e distribuído pela Columbia Pictures, que estava de olho em Castle graças ao sucesso de A Casa dos Maus Espíritos (1959), lançado meses antes. Para a produção, o cineasta recebeu carta branca para fazer o que quisesse. Por isso, logo no começo do filme ele aparece em frente às câmeras, apresentando o Percepto! para o público. Essa estratégia de showman seria usada diversas vezes no restante de sua filmografia.
Força Diabólica é precursora dos cinemas interativos, batizados de forma bizarra de 4D. Nessas salas de exibição, o público gira nas poltronas, é atingido por jatos de água e sente o aroma de flores. Para filmes que não são adaptados a essas novidades, a experiência chega a ser exagerada e uma distração desnecessária.
No caso da obra de Castle, no entanto, o artifício do Percepto! é mais do que fundamental para o espectador. Sem ele, praticamente não nos conectamos com a trama e tudo parece muito bobo.